SONAMBULISMO

O sorriso do homem é um cravo na janela.

O riso do solitário é cheio de lagrimas.

A vontade de dormir é o cansaço da alma.

A morte da coisa é a coisa triste.

O sangue é o vinho do corpo.

A ira do homem é a coluna dos medos.

A pedra e a água são carne vertebrada.

Na china tem chinês do Himalaia

No Japão tem japonês que fala português.

Nos vasos da Russia tem flores amazônicas.

A janela aberta bisbilhota a sala,

O vento beija as grades que choram.

O amor do por do sol beija o mar.

A gota de chuva é um pasto sem gado.

O sussurro da brisa faz o estrondo do trovão.

Folha que cai germina o carvalho.

O amor é um riso aberto.

Canto solto é uivo apaixonado.

A Lagrima que rola, é correio sentimental.

A cerca sem mourão, virou o muro de Berlim.

A porta escancarada é entrada de cadeia.

Cama desfeita é cabelo de paixão.

Chave perdida é pilão de moinho.

Gravata vermelha é fogo que incendeia.

O rio passa sob as pontes é feito de cipós são João.

Dos pelos eriçados da carne grita o desejo.

Os pássaros dormem cedo e não são boêmios.

O pescoço taurino vive em Madri.

O céu escarlate da boca tem dentes de sabre

O mundo cresce na serra por traz do curral do rei.

A cachoeira da esquina deságua no Nepal.

Sobre o asfalto da rua c. o sino Chora na catedral.

Os campos de trigo do norte pedem pão.

0s vinheiros de alem mar não bebem vinhos.

Sentado estão os cadáveres do Bonfim.

um prato de cebolas e bacon derrete no fogo.

Sobre o muro cemitério de Diamantina corre uma carruagem de fogo.