O SÁBIO DAS SOMBRAS

Cana triturada é corpo no chão.

Paixão engarrafada é solidão....

A folha ao cair deixa a vida mais leve.

A semente é o feto da arvore.

Nas entranhas do pó o vento chama o poema.

Nas rimas do inverno sinfonia dos mortos cantam.

Nos braços do chão o galho chora.

Os olhos das pedras é o luar do sertão.

O suicida da sua face a tapa.

Nos abraços do galho a folha lhe da adeus.

Os grãos de areia bailam na fornalha.

Na margem do mar mora um afogado.

Milhas de solidão é via de espinheiros.

O blecaute é um tigre que ruge.

Um black Power dança mais que Fred Aster.

Morre o som sobre as dores do mundo.

O dom das flores mortas é chorar.

No balde de rosa mora o mago do cheiro.

Nos altares dos hipertensos tem rosas de sal.

Flores da cal pinga na cova.

Goteiras de velas queimam a carne.

Nos vales dos versos Goya gritou pela sombra.

fantasma é o barco que levava os escravos.

Mouros e ratos comem das mesmas porções.

No coração do capitão do mato cresce espinhos.

Vândalos andam nus em Sta Luzia.

Um pé de pimenta cresce sobre o corpo putrificado.

De um cão abandonado nasce o uivo do lobo.

O cheiro de sangue é o perfume do corpo.

Sobre o grão de areia ajoelha o verso.

No olhar da sereia voa a Medusa.

Sirenes do almoço poe fogo no alho.

O sorriso do assassino é pendurado no galho.

Sob o morro o mar é afogado de merda.

A alma imortal é uma cadela no cio.

O arco do coração lança setas envenenadas.

A flecha é beijo da viuvá negra.

Catar feijão é tomar prozac em grão.

Nas estações do nada a face contorce de dor.

Nas pedras o vento gritam por socorro.

Na noite fria dorme os pesadelos.

Quem aprende com os erros se torna o sábio de sua casa.