Café Gelado

Tenho nutrido ódio de minha boca.

Não encosto sequer os lábios

No mesmo pedaço frio de porcelana

Que retêm o café

Quase congelado.

Por que o espero congelar todos os dias?

É certo que uma mente sana

E acalmada pelos livros certos

Sabe responder;

Mas a mente de quem acredita que o seu curto respirar já é uma falha,

Toma essa lacuna do por que para ferir-se e ferir quem ama.

Sem dúvidas é para que o estômago,

Habitado pela morte,

Não reclame de algo vivo.

“Tudo por aqui deve estar morto”!

— Ronca a dispepsia dos sentimentos de amor.

“Pela garganta isso não passa”!

— Empurra para fora a língua

Com qualquer toque aconchegante.

"Espere que morra... tudo..."!

Meus olhos choram.

O café congela,

Não quero mais bebê-lo, mas bebo.

Assim, eu me sinto péssimo,

Nauseado,

Com azia.

E é só o começo do dia.

Meus desejos sofrem com o que me repelem.

Com os prazeres da carne sonho...

Viver como eu vivo é um pesadelo.