Poema – Chamas negras

Poema – Chamas negras

Eu carregava uma marca negra

Uma chama escura que incendiava

Os recantos da minha alma

Haviam dias que estas chamas

Transbordavam pelos meus olhos

Então eu me feria

Como se nada importasse

Aquelas cicatrizes, aquelas lágrimas

De repente não significavam mais nada

Eu só queria foder com ela

Até perdermos a consciência

Nos meus dias mais sombrios

Eu me tornava outra pessoa

Me tornava algo mais

A dor, as angustias

Aquela maldita crise de pânico

Se tornavam meros devaneios

Minha loucura se transformava

Na minha mais doce aliada

E juntos afundávamos o mundo

Nas nossas malditas feridas;

Roubaram a minha infância

Então eu roubei do mundo

A sua inocência

Nunca me lamentei

Pelo que me fizeram

Todas as vezes que abriam novas

Feridas na minha alma ou no meu corpo

Eu as rasgava até as entranhas

E masturbava os vermes que viviam ali

Toda dor que a vida me causou

Me transformou no Poeta que eu sou hoje

Se vago por estas terras

Com os pés cheios de ferida

Foi porque em algum momento

Aceitei as chamas negras...

Ela me conheceu nos meus piores dias

Como se ela tivesse olhado nos olhos do Diabo

E prometesse a ele amor eterno

Éramos as chamas negras do inferno

Incendiando anjos e querubins

E nestas chamas aonde a luxúria e a loucura

Satisfaziam a nossa necessidade por sexo

Transformei os seus gemidos

Em sinfonias para o Diabo

Nunca nos importamos

Como chegamos até ali

Ou sequer se o que sentíamos era amor

O que conectou nossos espíritos

Foi a dor que transbordava das nossas almas (...)

Há cada dia

Eu renasço nestas chamas

E morro um pouco mais

As vezes eu me pergunto

Eu sempre fui um monstro?

Ou aos poucos

Fui me transformando em um?

Aceito esta monstruosidade

Tal como aceito os meus desejos mais impuros

No meu próprio inferno

Erguerei templos e catedrais

Transformarei as freiras

Em prostitutas

Não louvaremos nenhum Deus ou Diabo

Somente os nossos desejos

Nossos rituais serão regados a orgia

E profanação do que um dia foi sagrado

Se entreguem as chamas negras

Até que as cinzas os transformem em Poesia

- Gerson De Rodrigues

Gerson De Rodrigues
Enviado por Gerson De Rodrigues em 07/09/2020
Código do texto: T7057270
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