Hécate

Sob a penumbra noturna abracei meu submundo e com ele todos os mortos soterrados nas memórias de uma escuridão esquecida.

Ah, a noite é como um breu povoado de incertezas, nela também habitam os esqueletos dos medos suprimidos.

O escuro é permeado por aparições espectrais daquilo que jaz devorado pela terra e ainda assim assombra os comportamentos humanos (...)

Levarei-te a escavar teu cemitério de memórias escuras para que sejas assombrado pelos fantasmas delas, até expurga-los de suas entranhas.

"As lembranças que dormem nas raízes da vida são fantasmas plantados no jardim do tempo."

(...)

Procures a necromancia naquilo que lhe assombra mesmo após a morte. Ora, e como entenderias o presente sem escavar o teu passado?

A terra nutre a vida, mas também é o reino dos mortos sob o solo; e para que um novo ciclo se inicie, a terra há de comer-lhe os olhos e por fim parir-te com uma nova visão.

Eis a magia oblíqua por trás de cada fim de ciclo que permeia a regeneração dos tecidos mentais.

Se ocorrer-lhe penetrar teu submundo; já não temerás o escuro; ele estremecerá frente ao teu corpo.

Caminhei com as feridas geradas pela sabedoria da noite. E abençoei o solo em que pisei com a depressão que se alastrava por minha alma.

Percorri florestas sombrias no interior do meu inconsciente e erradiquei a solidão dos instintos

para uni-los em matilhas que uivam

em uma elegiaca sintonia.

Evoque os mortos dentro das tuas memórias; e se debruce sobre as encruzilhadas da tua mente.

Só assim verás a luz evadindo-se das trevas em seus pensamentos; E domesticarás os traumas que em ti uivam tal como bestas indomitas.

Os apreciadores da escuridão carregam divindades, mas foram convencidos durante as suas vidas de que elas só podem existir na luz.

Retorno após fitar a morte; para lembrar-te que na melancolia banha-se a beleza sublime de uma alma destilada pelas estrelas.

E quando acordar os mistérios que te habitam, também há de despertar a potencialidade que jazia em ti adormecida ante o silêncio lunar.

Observo as luzes sob o contraste noturno; e regozijo-me por entre os mistérios que adormecem em meus olhos indecifráveis.

E hei de escurecer a órbita dos teus

olhos para que tu afogues teus demônios em tua alma e encontres a luz nas partituras do tempo.

O que és a vida se não um eclipse?

Um eterno jogo de luz e sombras?

- Letícia Sales

Novo Instagram de poesias: @hecate533

Letícia Sales
Enviado por Letícia Sales em 09/02/2021
Reeditado em 22/07/2023
Código do texto: T7180664
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