Eu sou

Eu sou moço forte de rosto

e fraco de coração,

eu sou o fundo do poço,

levando pesado desgosto

na palma de cada mão.

Eu sou o feio e o roto

que afasta qualquer compaixão,

eu sou o rasgo e o roxo,

o sangue da alma e do corpo

que escorre e ensopa o chão.

Eu sou a ausência do choro

na presença do seu sermão,

eu sou o seco do olho

a traça, a daninha e o joio,

a praga na plantação.

Eu sou a falta de apoio

que derruba a construção,

eu sou a voz sem decoro

a artimanha no jogo

e o fracassar da missão.

Eu sou o silêncio do coro

e o recusar do perdão,

eu sou o maior desaforo

o fardo, o cisco, o estorvo,

o erro da criação.