Homem Líquido

Quero derreter-me sobre um calhamaço de papel,

sangrar a tinta que representa minhas aflições,

as dores póstumas que torturam meu inconsciente;

Costurar-me nos devaneios das minhas angustias oníricas.

Quero expressar-me como homem líquido e moderno, de caráter ultrapassado;

Quero morrer na minha arte de vomitar palavras,

mas não realizarei minhas ambições.

Hoje não há papel,

não há tinta,

não há sangue,

não há homem

Ofereço-lhes algoritmos frios, ao invés de homens indiferentes,

teclados mecânicos e falhos, ao invés de canetas vacilantes,

softwares inacabados, ao invés de papeis cortados,

liquidez em meio a concretude.

Resta-me ser um homem dúbio e pendular,

um poço de incertezas hipócrita,

uma poça de sentimentos rasos,

um inveterado artista popular.

Luc Pavanni
Enviado por Luc Pavanni em 02/01/2023
Reeditado em 02/01/2023
Código do texto: T7685125
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