Melancolias e Alguns Versos III

O pecado sempre diante de mim,

Ofendendo minha crença,

Consumindo-me feito doença,

Esse louco desprezo dentro de mim

Os anos a morrer,

Em meu rosto, a se desfazer

A beleza que nunca mereci

Na vida, nunca reconheci

Frio e silêncio guiam a noite

Meus olhos vagam na escuridão

Minha carne lastimada ao açoite

Cuja alma perde-se na imensidão

O sangue rega a terra

Que o sol tanto castiga

Libertando a fera

Que o homem tanto instiga

Até penso em me levantar,

Mas inércia não me deixa fazer

Não deixa a boca lamentar

Essa louca vontade de morrer

Com o rosto banhado a egoísmo

E meu corpo vestido de apatia

Velo quieta minha eterna agonia

Presa nesse transe de pessimismo

Não me importo com esse mundo,

Nem com cada mortal a perecer

Toda a dor a que fazemos por merecer

Merecida recompensa, no fundo

Perdida a flor da idade

E com ela, a inocência da mocidade

No fim do túnel, a morte me chama

Sobre os portões do inferno, clama

As chamas anseiam

Por meu espírito manchado

Por apagar da vida

Meu semblante condenado

Aceito minha punição,

Fecho minha boca, passiva

Ajoelho-me no chão

A flagelar minha carne viva

Não ouso revidar,

Meu tormento eterno

Pois uma vez no inferno,

Só o diabo pode te ajudar