Zumbi

Meu coração foi arrancado do peito,

Finalmente, estou anestesiada

Meu sangue é ódio liquefeito

A esvair da minha garganta cortada

O pecado é um prego fincado no meu pé,

Delatado pela minha mancada

Suga meu credo, ofende minha fé

Manchando, de vergonha, minha pegada

Não preciso mais de sentimentos

Apenas quero vagar

De mente vazia, sem pensamentos

Até a terra se abrir e me tragar

Lixo do esperma paterno,

Fermentado no ventre materno

Amaldiçoada assim que concebida,

A essa minha eterna morte em vida

Por favor, peço que não ore por mim

Apenas deixe meu espírito ir embora

Agradeça a cada verme que me devora

A paz que jaz sobre o meu fim

Meu estômago sofre o ardor,

Remoendo a ira que o fere

Minha boca regurgita o rancor

Da injúria que nunca digere

Minha língua não se guarda

De falar o engano

A despeito do castigo que aguarda

Todo o ingrato ser humano

As sementes do mal se propagam

Feito ervas-daninhas sobre a criação

A marca divina, apagam,

Escondendo-a na sombra da perversão

Lágrimas tão podres,

Quanto os olhos que as choram

Alma sem valores,

Cujas carnes se descoram

Não o fedor da morte,

Mas o cheiro da corrupção

Exala forte,

O meu cadáver em putrefação

O pecado original,

Que o santo batismo não lava,

Impregna esse corpo mortal,

Que nem uma legião de anjos salva

Falo com meus intestinos,

Pois, de mim, eles não duvidam

E, com a dor, eles me revidam,

Confidentes dos meus desatinos

Ao invés de oração,

Apenas enterro o meu lamento

Junto ao meu coração,

Cerne do meu sofrimento

Há muito, já sucumbi,

Deixei minha alma naufragada

E minha consciência ser tragada

Por esse meu vazio de zumbi