A mestra dos labirintos (para Mariinha)

Mãe, teus olhos de águia

não me vêem, olhos de espreita

não me ladeiam ou protegem

Sentimentos e expressões

pássaros espantados

e temerosos cobrem-se de cinzas

pois, encontrados

entranhas corroídas

penas arrancadas

pele arranhada

Que deus adorado e fanfarrão

habita-te mãe? que águias gêmeas

partem deste templo e capturam-me a alma,

devassando-me a intimidade indevassável?

Quando me perdoas,

acaricias-me os cabelos

contas histórias de fadas

cantas acalantos

aparece a outra, a que amo

Pássaro encarcerado

temo pássaros cativos

ou os que adentrando em casa

se debatem sem saber sair

A vida, no entanto, sendo tamanha

todo dia me chama

e embora ouça seu clamor confundindo-a

com a mãe inesperada

me demoro na clausura

:ora o deus alado e bufão

ora, a mulher desvelada e branca

Para a segunda desabrocho, da ave de rapina

que fere com o olhar, escapo

Abro-me e fecho-me no vai e vem

de túneis enlouquecidos

Por quanto tempo permanecerei no claustro

disfarçada em galerias?

nunca sei qual virá

Muitas vezes deixo a masmorra

saindo à vida

Encontrar as escuridões, descubro,

freqüentar labirintos com incerta desenvoltura

e às vezes, ter um farol para os extravios

revitaliza a luz, me fortalece

Agradeço-te mãe, Deusa das Sombras

Mestra dos Labirintos

a árdua e inestimável aprendizagem