Um texto/não-poema, reescrito e reescrito no laboratório de minha escrivaninha do recanto

Quando palavras chegam e não as compreendo,
perecem enxames de libélulas, borboletas, grilos, traças, corvos em manadas azuis e desenfreadas.

Escuto sons de uma língua estrangeira,
orgãos e catedrais de um passado ancestral,
atemporais, no entanto, pois vivos e atuais.

Escutando minha alma absoluta,
letras descansam meus ombros,
asas quebradiças.

Criando raízes me transformo em pé-de-fruta,
rezo a um deus desconhecido,
e digo, seja o que o deus quiser.

O vento balança meus galhos,
e letras, antes de serem palavras,
recuam assustadas,
não mais me rodeam em enxames,
não se juntam em sílabas,
nem dançam à luz de meu olhar.

Outras letras no entanto, chegam
se encadeiam e formam palavras inteiras,
coriscos riscando noites de verão,
vagalumes pisca-pisca,
palavras soltas, antes de formarem frases.

Por que preciso das palavras?
Por que não as deixo em paz?
Ora, me perturbam,
ousam me renovar,
e criam realidades.

Mas aqui, com palavras construí
um excesso de imagens.

E menos é mais.