Não vejo flores, nem amores.

Assombrada fica minha alma

E espantado o meu espírito

Por que no caminho não vejo flores

Somente sinto espinhos, sequer vejo cores

Até sinto o perfume, mas não vejo amores

Como algo invisível, intocável, inconcebível

mas que tenho a certeza que aqui está.

Como pode a natureza humana

Se endurecer, se amordaçar,

Ser o seu próprio algoz

o seu próprio inquisidor

Se materializar no silêncio de sua voz

Negar sua liberdade, comer o resto, lamber o prato

Morrer sorrindo, e dizer: não sinto dor.

Assombrada fica minha alma, quando vejo então

Que usam cabrestos e aceitam celas

Animais ensinados, inteligência burra

Insanidade perfeita para as regras

A exatidão dos passos medidos milimetricamente

Para serem iguais, imperfeitamente iguais

Mansos e perfeitamente adestrados

Assim como bestas, que andam livres pelos pastos

E tem a visão de seu infinito horizonte

Até ali, onde estão as porteiras e a cerca

De arame farpado.

Chora o meu espírito, derrama-se em lástima

Meu coração, ver assim alegrias furtivas,

Sorrisos passageiros, esmola moral.

“Ah! Mas tá bom, primeira pagina do jornal

Sou astro, sou grande, por hoje sou rei!”

Que mísera e infame abnegação.

Sou gente, sou sangue, sou suor, sou semente

Sou povo, sou único, sou eu a minha própria razão

Bandeiras eu ergo pois sou também minha nação.

Que não chore mais meu espírito, nem sucumbam

Nossos sonhos aos devaneios de alguns

Que eu sinta o cheiro das flores, que eu veja as cores

E por que não, que eu sinta amores

Proclamar a liberdade, libertar a voz, a vaidade

Expandir enfim seu horizonte, acordar do sono constante

De ser um número e nada mais.

angela soeiro
Enviado por angela soeiro em 03/06/2006
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