À CAMÕES

Cantar feitos lusitanos?

Do Gama, Cabral, o Magalhães circunavegante?

Para mim tarefa errante.

Talvez dos filhos dos brasis,

De Gusmão, de Dumont...

Fadados ao ar rarefeito

Deitaram preito à E’olo;

E na Cidade Lume a grande jornada deu-se cume.

Desde pipas, de céus enfeitadas,

Desde a Eiffel, um norte, que enredou,

Este ar é nosso;

Do mar, onde o sol nele se contempla,

Até a última estrela que no céu habita.

Tendo pois nossos campos para o mar voltados,

Por quê não nele navegar?!

Ao deixá-lo aos piratas

Que de armas nossas praias abastam?

Ou de ópio que do oriente mana?

E de pó que mata gente irmana,

Oriundo de terras castelhanas?

Dos piratas, que convenção pode acatar

Um reino herdeiro do oceano?

De terras além das Tordesilhas soberano?

De Pindorama, morena e livre cor?

Nem a anglos ou godos dominado?

Seria também chamar Icário

O mar por onde não pudessem sobrevoar

Os pelicanos e batuíras.

Que sol é este a derreter nossas asas,

Reduzindo à tamanho de nau, à praia,

Os cabelos da deusa do mar?!

Recordo aos gentios, aos vates:

—Raça esta, dos mares herdeira,

Lançou-se também aos ares

E sem pés fincados, qual ave, foi a primeira.

Luís Aseokaynha
Enviado por Luís Aseokaynha em 08/11/2010
Código do texto: T2604175
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