D. Maria segunda

D. Maria, servi Portugal.

Mil oitocentos vinte e seis, dez de Março,

Morre D. João sexto, crê-se que envenenado,

D. Miguel deseja regressar ao Paço,

Na corte de Viena de Áustria vivia exilado,

Sua irmã, Isabel Maria, ganhava espaço,

Seu pai, previdente, tinha-se acautelado.

Temendo o filho, e Carlota Joaquina,

Designou como regente, a sua menina

D. Miguel não revela sua contrariedade,

Sabe como jogar naquele xadrez,

Opta por esperar pela nova oportunidade

De regressar a solo do reino Português.

Não o manifestou mas a grande verdade,

Não esperava perder a coroa outra vez.

A Regência chama o imperador D. Pedro,

Conhecendo a realidade, sente algum medo.

A somar à sua legal impossibilidade,

Havia que contar com seu irmão,

D. Miguel não mudara na verdade,

Conservava em si a mesma obsessão,

D. Pedro conhecia tal realidade,

Agora tinha de procurar uma solução.

Travava-se uma luta de interesses pessoais,

Disfarçada entre absolutistas e liberais.

Abdica a favor da filha, D. Maria da Glória,

Outorgando importante carta constitucional,

Pensara encontrar as luzes da vitória

Para a grave crise da sucessão nacional.

D. Miguel finge aceitar o evoluir da história,

Já de olho na coroa do reino de Portugal.

Sacrifica-se a ficar noivo da sobrinha,

Faz jura solene e rumo à coroa caminha.

D. Carlota Joaquina tudo comandava,

Nada se fazia sem obter seu consentimento,

Mil Oitocentos vinte seis passava,

Quando em Outubro se dá o casamento,

Áustria e por procuração, pouco interessava,

Importante era garantir tal momento.

D. Miguel, tendo sua mãe como aliada,

Conquistava a glória tão desejada.

Ainda na Áustria jura a carta Constitucional,

Será regente durante a menoridade

Da futura D. Maria segunda de Portugal,

Em Lisboa repete o juramento de fidelidade,

Convoca as cortes para discutir sucessão real,

Começa a perceber-se sua intencionalidade.

Mil oitocentos vinte e oito, Junho a vinte e três,

Proclamado, pelas cortes gerais, rei Português.

Vigência da carta constitucional é anulada,

Repostas leis constitucionais tradicionais,

D. Miguel vê sua ambição consumada,

Desencadeando iras de revolta nos liberais,

O novo monarca tem Espanha como aliada,

Bem como o Papa e alguns, poucos, mais.

Estava lançada a Guerra civil Portuguesa,

D. Pedro não podia aceitar tal baixeza.

D. Miguel goza de indiferença internacional,

Principalmente da Inglaterra e França,

Que lhe permite manter-se Rei de Portugal,

Eis que a Europa em mudanças avança,

Mil oitocentos e trinta, seria ano vital,

Revoluções tiram a D. Miguel a esperança.

Lá longe, em terras do império Brasileiro,

D. Pedro pensa enfrentar seu irmão traiçoeiro.

Mil oitocentos trinta e um, abdica pró filho,

D. Pedro segundo, e retorna à europa,

Não ignorando perigos, define seu trilho,

Reúne, em Inglaterra, significativa tropa,

Homens prontos a carregar no gatilho,

Ao menor sinal de perigo, ainda que lorpa.

D. Pedro quarto não abandona Portugal,

Arrisca a vida e lidera o partido liberal.

Acção, tomam o arquipélago dos Açores,

Será a base de ataques a Portugal, por mar,

Temem-se duras batalhas, das piores,

O cheiro a pólvora impregna o Luso ar.

Primavera de trinta e quatro, rumores

Indicam que a guerra estará para terminar.

Vinte e dois de Abril, de trinta e quatro,

Londres vê florescer importante pacto.

França e Inglaterra apoiam os liberais,

D. Miguel começa a sentir-se isolado,

Espanha vive momentos algo iguais,

Em Londres assina-se importante tratado,

Carlos Maria de Borbón recebe sinais

Que suas pretensões pertencem ao passado.

D. Miguel não vê hipóteses de vitória,

Presta-se a terminar sua caminhada e glória.

Napier desembarca na Figueira da Foz,

Avança por Leiria, Ourém e Torres Novas,

Tropas de Espanha fazem ouvir sua voz,

Quinze mil homens entoam as trovas

Que pela Beira e Alentejo se dirigem a nós,

De grande determinação nos darão provas.

José Ramón Rodyl e Campillo, general,

Comandante dos apoiantes do partido liberal.

Mil oitocentos trinta e quatro, mês de Maio,

Dezasseis concretamente, terras de Asseiceira,

Tomar estende por estas terras o seu raio,

Enfrentam-se Miguelistas e força estrangeira,

D. Miguel vê cair seus homens, olha de soslaio

Sente-se vitima de alguma jogada traiçoeira.

Imensidão de soldados mortos e mutilados,

Além de inúmeros, pelos liberais, capturados.

D. Pedro, apoiado pelos duques de Saldanha

E da Terceira, obtém importante vitória,

Vence mais uma batalha, esta está ganha,

Garantindo a coroa a D. Maria da Glória.

D. Miguel hesita entre rumar a Espanha

Ou recuperar forças e continuar sua história.

Tinta e quatro, Maio, dia vinte e seis,

D. Miguel abdica de continuar entre os reis.

Évoramonte assiste ao momento, forçado,

D. Miguel abdica da coroa de Portugal,

Aceitando deixar o reino, como exilado,

“O Absolutista” não se renderá ao liberal.

Alvalade, Alentejo, sempre o terá apoiado,

Aí passa última noite em território nacional.

Sines o aguarda, vindo de Vila Viçosa,

Rumará a Génova, viagem algo pesarosa.

Ainda ao largo da costa Portuguesa,

D. Miguel denuncia a Concessão,

Redigindo, à chegada, carta de tristeza,

Quanto a processos usados, coacção.

Vinte de Junho, protesta com firmeza

Contra renúncia à coroa da Lusa nação.

D. Miguel vê-se sem fortuna pessoal,

Suas jóias, deixara-as em Portugal.

Grão-ducado de Baden, Alemanha,

Aqui viverá, D. Miguel, seus dias,

Uma princesa por casamento apanha,

Seis filhas e um filho são suas alegrias,

Nunca desistindo da sua campanha,

Acreditando que imporá suas teorias.

Novembro de trinta e seis decorrido

Faz nomeações, simbólicas, ao “Remexido”.

Líder de guerrilheiros e ex-soldados

Que se mantêm fieis à causa Miguelista,

Geram focos de resistência nada isolados,

Sul de Portugal apoia ideal absolutista.

No Douro, por Zé do Telhado apoiados,

Também se alguma resistência se regista.

Outubro de mil oitocentos sessenta e seis,

D. Miguel é vencido pelas naturais leis.

Morre sem nunca conseguir regressar,

Muita da sua luta irá esmorecer,

D. Miguel, seu filho, a quer continuar,

Luta difícil como irá perceber.

Dinastia de Bragança sente-se a definhar,

Nem D. Duarte Pio lhes pode valer.

D. Miguel jaz no panteão dos Braganças,

S. Vicente de Fora, reais andanças.

D. Miguel apesar de percurso conturbado,

Ainda arranjou tempo para conquistas,

Rei fiel, não houve rainha no seu reinado,

D. Maria nem lhe pôs bem as vistas,

Dois anos depois, era casamento anulado.

No exilio, D. Miguel, seguiu outras pistas.

Adelaide de Lowesntein-Rosenberg, a eleita,

Dar-lhe-ia sete filhos, sucessão satisfeita..

Terá sido homem de uma grande paixão,

D. Francisca do Vale, tê-lo-á acompanhado

No seu exilio, carece de certa confirmação.

Outras terão vivido mesmo o noivado,

A D. Maria Cristina terá dado seu coração,

Princesa das duas Sicílias, não deu resultado.

Filha e sobrinha do duque de Modena

Também terão sonhado viver igual cena.

D. Maria segunda teve infância pouco feliz,

Conhecedora das constantes traições paternas,

Viveu os desgostos de sua mãe, a imperatriz,

Assistindo a discussões bem duras e eternas,

Foi prometida a homem que nunca quis,

Sentiu-se puro joguete nas lutas fraternas.

Ainda criança foi coroada rainha de Portugal,

Não imaginando quanto sofreria por tal.

Mil oitocentos dezanove, mês de Abril,

D. Pedro quarto e esposa D. Leopoldina,

Vêem nascer, nas vastas terras do Brasil,

A quatro, sua linda e primeira menina.

Personalidade forte e tempera viril,

Loira, de olhos azuis e pele muito fina.

Menina revoltada, seria mesmo arisca,

Herdou a beleza da linhagem Austríaca.

Mil oitocentos vinte seis, a viragem,

Seu pai, D. Pedro quarto, abdica do trono,

Era o inicio de conturbada viagem,

Nada que lhe conseguisse tirar o sono,

Nem quando D. Miguel ganhou vantagem,

Acreditando na frase “o seu a seu dono”.

Julho de mil oitocentos vinte e oito,

Deixa o Rio de Janeiro, é duquesa do Porto.

Seus direitos à coroa são reconhecidos,

Embora que não por todo o mundo,

Desde Março, seus sonhos eram traídos,

Seu tio D. Miguel desferira golpe profundo,

Dissolvera as Cortes, artigos escondidos

Permitiam-lhe sonhar alterar tudo.

D. Maria levava companhia de confiança,

Marquês de Barbacena, quem com ela avança.

Três de Setembro, águas de Gibraltar,

Tomam conhecimento da Lusa situação,

Marquês de Barbacena resolve mudar,

Irem para Viena não seria boa solução,

D. Miguel tinha Metternich para o apoiar,

Este tinha a politica europeia na mão.

Tomando a responsabilidade, o Marquês,

Resolve ir para Inglaterra, mau outra vez.

Lorde Wellington apoiava, abertamente,

D. Miguel, não transmitia tranquilidade,

D. Maria é recebida, na corte, honrosamente,

Mas recusam conceder qualquer liberdade,

Aos emigrantes que são gente da sua gente

De irem lutar, sua expressa e livre vontade.

Tropas liberais esperavam na Ilha Terceira,

Portugal protestava contra a acção traiçoeira.

Mil oitocentos vinte e nove, Agosto,

Trava-se violenta batalha na vila da Praia,

Miguelistas sofrem tremendo desgosto,

Em Inglaterra espera-se que D. Miguel caia.

D. Maria inicia viagem em sentido oposto,

Não suportava mais ter Londres na sua raia.

D.Maria, não podia suportar a humilhação.

Emigrantes não escondem sua decepção.

Mostrando grande raça e tenacidade,

D. Maria não hesitou em dizer “basta”

Por nada abdicaria de sua dignidade,

No Brasil esperava-a sua futura madrasta,

D. Amélia de Leuchtenberg, pura amizade.

Na europa, a esperança liberal se afasta.

Quando já começa a rarear a esperança,

Rebenta a revolução de Julho, em França.

Voltam a animar-se as hostes liberais.

Mil oitocentos trinta e um, sete de Abril,

D. Pedro quarto não se sustem mais,

Abdica, para seu filho, da coroa do Brasil,

Vem, com filha e mulher, lutar por ideais,

Paris vive ainda num estado primaveril.

D. Pedro titula-se Duque de Bragança

E regente, sua decisão novo ânimo lança.

Marquês de Palmela, Conde de Vila Flor,

José António Guerreiro, são nomeados

Regentes da Ilha Terceira, pelo imperador,

Rapidamente todos os Açores são tomados.

D. Pedro recebe em Paris novo vigor,

Luís Filipe primeiro e governo são aliados.

D. Miguel não soubera seu apoio cativar,

Chegando ao ponto de nos deixar humilhar.

D. Pedro deixa sua filha em Paris,

Aproveitaria para completar sua educação,

Rumando para comandar a revolta no país,

D. Maria aceita respeitar tal determinação,

Sua madrasta acompanha-a, mesmo infeliz

Lá vai rezando por uma breve resolução.

Mil oitocentos trinta e dois, Março,

D. Pedro chega aos Açores, ganha espaço.

Nomeia novo ministério, forma exército.

Conde de Vila Flor assume seu comando,

D. Pedro começa a conquistar crédito,

Depressa, ao continente estará rumando,

Sartorius, oficial Inglês de reconhecido mérito,

Até Matosinhos o vai transportando.

Dia oito de Julho entra para a história,

Liberais desembarcam na praia da Memória.

Segue-se o cerco do Porto, resiste a cidade,

Duros combates se travam, vida ou morte,

Duque da Terceira vence na Cova da Piedade

Lisboa sente que está a mudar sua sorte,

Liberais rejubilam e cantam hinos à liberdade,

O mesmo sucedendo na capital do norte.

D. Pedro entra triunfante na Lusa capital,

Preparando a vinda de D. Maria para Portugal.

Vinte e quatro de Julho, nome de avenida,

Foi o dia da entrada triunfal em Lisboa,

Duque da Terceira arriscara sua vida

Por uma causa que lhe parecera justa e boa,

Ilustre Lusa gente nunca dada por vencida,

Nunca se entregando, lutando pela coroa.

Muito faltava para Portugal atingir a paz,

Que importa o sacrifício que por bem se faz.

Mil oitocentos trinta e quatro, a vinte e quatro

Mês de Setembro, Portugal pode respirar,

A guerra civil terminara, festejava-se o acto,

D. Maria segunda poderia, finalmente, reinar,

Conta quinze anos de idade, irrelevante facto,

Perante tudo que a vida lhe daria a provar.

D. Maria aproveita seu primeiro acto oficial

Para condecorar seu pai, já em fase terminal.

Grã-Cruz da Ordem de Torre e Espada,

Do Valor, Lealdade e Mérito. Foi D. Maria

Quem, perante uma corte emocionada,

Tal distinção, ao peito lhe colocaria.

Morre poucos dias depois, sente-se abandonada,

De ora em diante só consigo própria contaria.

Madrasta e tias não lhe merecem confiança,

Portugal, reino dividido. paulatinamente avança.

Portugal não se esconde perante adversidades,

Traço genético que destes tempos herdámos,

D. Maria toma decisões, enfrenta dificuldades,

Nunca demonstra temor, assim aqui chegámos,

Dá ao Duque de Pamela novas oportunidades

Nomeia-o chefe do governo, assim começámos.

Favores com favores, sempre se pagaram,

Duque de Palmela um dos que seu pai apoiaram.

As câmaras lhe demonstram sua oposição,

Debatiam-se com maior prioridade

Casar a rainha, sua grande preocupação

Viviam-se tempos de grande instabilidade,

Havia que assegurar a real sucessão,

Lá longe, outros espreitavam a oportunidade.

Vários noivos foram sugeridos e destinados,

Sua madrasta tinha seus trunfos guardados.

Estava vedado, a todas as rainhas de Portugal,

Casar com qualquer pretendente estrangeiro,

Assim o determinava a carta constitucional,

As camaras teriam de se pronunciar primeiro.

Deram-lhe o sim, casar era mesmo essencial,

Só assim se poderia aspirar por um herdeiro.

Amélia de Leuchtenberg lança sua carta,

Seu próprio irmão, bem esperta esta madrasta.

Augusto de Leuchentenberg é oficializado,

Neto de Maximiano da Baviera,

Não era o noivo, por D. Maria, desejado,

Duque de Nemours, esse sim é que o era,

Acima de seus desejos estava o estado,

Ou os de quem a madrasta defendera.

Luis Filipe de Orleães, soberano Francês,

Não recebe de bom grado o gesto Português.

Recebera, principescamente, a princesa

E agora recusavam seu filho, para consorte

De D. Maria, não esconde sua tristeza.

Dois meses após o casamento é a morte,

Fica novamente sozinha a rainha Portuguesa,

Parece não querer nada com a sorte.

Ainda não se refez de choque tão brutal

Já pensam em nova cerimónia matrimonial.

Escolhem Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha,

Leopoldo primeiro da Bélgica é seu tio,

Não importa se D. Maria aceita a aposta,

Decide um ministro, o Conde do Lavradio,

Mais importante que saber-se se gosta

É garantir o apoio de tão ilustre poderio.

São negociações difíceis e complicadas,

D. Fernando detinha fortunas abastadas.

Abril de mil oitocentos trinta e seis,

Finalmente casados, só meses mais tarde

É que se vêem, estranhas coisas de reis,

Parecem entender-se bem, é verdade,

Muito bem mesmo, como adiante vereis,

D. Maria liberta-se de sua ansiedade.

Parcela menor de um negócio maior,

Acaba por revelar-se casamento de amor.

Tendo criado novo estado, a Bélgica,

Países europeus decidiram dois casamentos,

Pura politica, grande jogada estratégica,

Evitavam-se possíveis futuros tormentos,

Europa mostrava-se bastante enérgica,

Tal como se mostraria noutros momentos.

Vitória de Inglaterra não escapava,

Com Alberto, primo de D. Fernando, se casava.

Vitória de Inglaterra e D. Maria de Portugal,

Tornavam-se primas por casamento.

D. Fernando é nomeado marechal-general,

Não fugindo, em nenhum momento,

Às suas responsabilidades enquanto tal,

Combatendo longo tempo, em sofrimento.

Sofria, D. Fernando, do mal de saudade,

Saudade de sua esposa e da tranquilidade.

Mil oitocentos trinta e seis, maio a decorrer,

Portugal vive a febre das eleições.

Setembro, desse mesmo ano, irá trazer,

À rainha, novas e oficiais obrigações,

Juramento à constituição tem de fazer,

É um sem terminar de complicações.

Quase nem, a constituição tinha jurado

Já se confrontava com novo golpe de estado.

Novembro, ainda deste mesmo ano,

A Belenzada, queria a carta constitucional,

D. Maria terá apoiado tal acto Lusitano,

D. Fernando dá-lhe seu apoio total.

Navios Belgas e Ingleses levantam pano,

Há que precaver se algo correr mal.

Forças antagónicas tomam posições,

Surge Passos Manuel e enceta negociações.

D. Maria aceita participar na negociação,

Outros tempos, outros modos de governar,

Acordam trabalhar nova constituição,

Grave incêndio surge para tudo complicar,

Edifício do Tesouro é alvo de destruição,

Logo os partidos se começam a acusar.

Erguiam-se pilares para tempos futuros,

Partidos revelavam-se rivais casmurros.

Mil oitocentos trinta e oito, finalmente

Nova constituição vê a luz do dia,

Crises ministeriais são norma corrente,

Começa a ruir o edifício da monarquia,

Começando também a tornar-se evidente

Que a solução não seria a partidocracia.

Ano antes, nascera o herdeiro desejado,

D. Pedro, que como quinto seria coroado.

D. Fernando via-se declarado rei,

Fernando segundo, por vezes esquecido,

Cumpria-se determinação da lei,

Muito o património lhe ficaria agradecido,

Também à Lusa cultura quis bem,

Amante das artes apreciado e reconhecido.

Mil oitocentos quarenta e dois, Costa Cabral

Protagoniza novo golpe de estado, liberal.

Passos Manuel chefiava então o governo,

Portugal sofria grandes transformações,

o teatro precisava ganhar novo terreno,

Garret é chamado a liderar as inovações,

Trabalho que se deseja tranquilo e sereno,

Nada condizente com tantas revoluções.

Criam-se Liceus, reformam-se universidades,

Nascem escolas superiores, reais necessidades.

Costa Cabral fora, de D. Pedro, apoiante,

No celebre desembarque do Mindelo,

Repõe a carta constitucional e, num rompante,

É nomeado ministro do reino, é vê-lo

A governar de modo firme e determinante,

Fá-lo, continuando o progresso, com zelo.

Cria importantes instituições culturais,

Academia das Belas-Artes e outras mais.

Escola de Arte Dramática, Imprensa Nacional,

São sementes, por si, à terra lançadas,

Homem de visão muito além do tempo actual

Promove o início da construção de estradas.

Acusam-no de procurar o controlo total,

Onde até as ideias opostas são censuradas.

D. Maria será vitima desta ânsia de dominar,

Até já lhe dera o título de Marquês de Tomar.

A politica nunca respeitou fronteiras,

Quanto a estratégias, está bem visto,

Não rejeitando artimanhas e ratoeiras,

Inventam-lhe romances com o ministro,

Procuram atingi-la de todas as maneiras,

Oh, que mundo tão baixo e sinistro.

Por essa Europa se espalha o boato,

D. Maria revela-se magoada com o facto.

Tudo se esclarecerá, é reposta a verdade,

D. Maria não se deixa ir em ilusões,

Sente que aquela falsa tranquilidade

Traz consigo, ventos de novas revoluções,

Maria da Fonte e Patuleia são a realidade,

Portugal não se livrava das convulsões.

Costa Cabral vê-se afastado do poder,

Embora seja medida só para entreter.

Mio oitocentos quarenta e seis, Minho,

Mais concretamente Póvoa do Lanhoso,

Mais uma revolução a abrir caminho,

Uma mulher comanda o povo revoltoso,

Costa Cabral não desperta carinho,

“Maria da Fonte” o movimento vitorioso.

Duque de Palmela substitui Costa Cabral,

Portugal recupera alguma da paz social.

Dia seis de Outubro, golpe palaciano,

Ficaria conhecido pela “Emboscada”

D. Maria remodela o governo Lusitano,

Logo maria da Fonte é rebuscada,

Guerra Civil, que só no próximo ano,

Junho, no Gramido, se dá por terminada.

Inicia-se quando novo governo nomeia,

Dando origem á guerra da Patuleia.

Mil oitocentos cinquenta e um, quase cai,

Partidos extremistas assim o desejam,

D. Maria recusa abdicar, Portugal mal vai,

Mas pior ficava se fizesse o que almejam,

Sua tenacidade doi fundamental, ajuizai,

Quais as intenções daqueles que a invejam.

“Mais depressa morreria combatendo nas ruas,

Do que abdicar” terão sido palavras suas.

D. Maria reinou durante dezanove anos,

Reinado atravessado por crises sucessivas,

Sem dúvidas que lhe terão causado danos,

Terá tomado algumas decisões emotivas,

Mas pensando sempre no bem dos Lusitanos,

Mostrando ideias inovadoras e criativas.

Mulher de grande força de vontade,

Revelou-se verdadeira amante da liberdade.

Rainha cognominada como “a Tirana”,

Por quem não suporta a derrota,

Pois para quem amou esta rainha Lusitana,

“Educadora ou Boa Mãe” foi a aposta.

D. Maria revelaria sua faceta humana,

Pena de morte, por crimes políticos, é deposta.

Fazia longos passeios pelo jardim da Estrela,

Terrenos por si comprados, para obra bela.

D. Maria segunda, era mulher de visão,

Portugal, apesar das confusões, progrediu,

O primeiro selo postal entrou em circulação,

Sistema métrico no seu reinado introduziu,

Telegrafia eléctrica, outra sua inovação,

Primeira moeda de cobre, no reino se viu.

Tráfego de escravos, colónias a sul do Equador,

É proibido, sendo Sá da Bandeira seu autor.

Fontes Pereira de Melo dá nas vistas,

Obras Públicas merecem ministério,

Finanças do país são bem revistas,

Estavam depauperadas, nenhum mistério,

Crises politicas deixam duras pistas,

O ministro vai usar de rigor e critério.

D. Maria constrói, Garret dá colaboração,

Teatro sobre ruinas do palácio da Inquisição.

Confessando que em tempo de escassez,

Muito lhe custava privar-se o teatro.

Fernando Lodi, quem o projecto fez,

Anos de construção seriam quatro.

Columbano Bordalo Pinheiro, Português,

Deixou nas pinturas do tecto, seu acto.

D. Maria sonhou, e só quem sonha, ousa,

Garret aqui estreou “Frei Luís de Sousa”.

Em reinado viveu muito ilustre Lusitano:

Almeida Garret; Domingos Sequeira;

Andrade Corvo; Alexandre Herculano;

João de Lemos; Mouzinho da Silveira;

Bulhão Pato, não, não é nenhum engano,

Visconde de Santarém. Gente de primeira.

Daniel Augusto Silva, grande matemático,

Portugal ombreava com o mundo mediático.

Grandes nomes mundiais despontavam:

Géricault; pinta a Jangada de Medusa;

Berlioz; músicas com que todos sonhavam,

Perante tanta qualidade, brilhava a Lusa,

Nabuco e Traviata em Verdi se ensaiavam,

D. Maria sente como nossa cultura pulsa.

Vitor Hugo publica “Nossa Senhora de Paris”

Vive-se a mudança, no mundo e no país.

Augusto Comte, “Curso de Filosofia Positiva”

George Sand vê seu primeiro romance editado,

Balzac tem “Comédia Humana” bem viva,

“David Copperfield”, por Dickens, é criado,

Louis Daguerre inventa a fotografia. Era criativa.

Ingres e Delacroix deixam o mundo mais pintado.

Artes; Medicina, Politica e também tecnologia,

Tudo, a velocidade vertiginosa, evoluía.

Éter e clorofórmio, anestésicos descobertos,

Primeira locomotiva é desenhada, além-mar,

Vivem-se tempos de espíritos abertos,

Génios são como que convidados a inventar,

Isac Singer constrói máquina de pontos certos,

Muito têm agora, as senhoras, que costurar.

Portugal acompanhava toda a transformação,

Ninguém imaginaria como seria o tropeção.

Na política emerge primeira grande aliança;

França; Espanha; Portugal e Inglaterra,

D. Maria tinha noção que tanta mudança,

Podia significar invejas e com elas a guerra,

Havia que ensinar, ao povo, que é em criança

Que a boa educação se aprende e aferra.

“Exemplo vem de cima” com toda a razão,

Diz o povo. D. Maria exemplo de educação.

Foi mulher e rainha bastante forte,

Não temendo enfrentar grandes sarilhos,

Nunca resignando nem à morte,

Sua mãe, seu pai, marido e alguns filhos,

Só quando Deus lhe deu igual sorte,

Não pôde ser ela a escolher seus trilhos.

Morreu em mil oitocentos cinquenta e três,

Deixando profunda dor no povo Português.

D. Maria morreu em trabalhos de parto,

Infante D. Eugenio, um natimorto,

Suas dificuldades eram conhecido facto,

Dizia; “Se morrer, morro no meu posto”

Décimo primeiro filho, um rol farto,

A todos desejando com amor e gosto.

Novembro, contava trinta e quatro anos,

Dia quinze, quando se despediu dos Lusitanos.

D. Fernando vive momentos de dor,

Fica incomunicável durante oito dias,

Perdera aquela que fora seu grande amor,

Com ela vivera dificuldades e alegrias,

Será regente até D. Pedro quinto ser maior,

Dividindo-se entre deveres e cantorias.

Ainda que casando uma segunda vez,

Foi sempre amado pelo povo Português.

D. Maria honrou seu sangue real,

Deixando profundo vazio neste povo,

Que o demonstraria no seu funeral,

Introduzindo-lhe algo simbólico e novo,

Uma pomba, sinónimo da paz nacional.

Convenceu quem a via como um estorvo.

Repousa em São Vicente de Fora,

Tomara Portugal tê-la por cá ainda agora.

Seu filho, futuro rei D. Pedro Quinto,

Prestou-lhe grande homenagem, genial,

Numa frase onde demonstra o instinto

Com que contornara a desgraça inicial,

Para unir seus filhos de modo infinito,

Sempre sob o grande amor maternal.

Muito deu ao país, de forma natural,

A única coisa que quis, servir Portugal.

Francis Raposo Ferreira

FrancisFerreira
Enviado por FrancisFerreira em 29/09/2012
Código do texto: T3907006
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