Origens

POVO LUSITANO

I – Origens

A vitória é paixão muito antiga

Desta insatisfeita raça humana,

Com ajuda, talvez eu consiga

Cantar algumas da gente Lusitana,

Quem sabe uma ajuda amiga

Me torne a tarefa menos desumana.

Não que tema o desafio lançado,

Mas ficarei menos cansado.

Lusitanos e seus antecedentes,

Outros há que não vale a pena,

Pois se uns foram influentes,

Outros tiveram acção pequena

Na formação de tão singelas gentes,

De alma clara e de tez morena.

Numa mistura de povos e raças

Nasceu tal povo de distintas traças.

Foi, há muitos séculos passados,

Que esta grande paixão desabrochou,

Ainda de Lusos não eram chamados

E por sua ambição tudo começou,

Nunca se deram por conquistados

Nem nunca o perigo os amedrontou.

Vieram de vários pontos cardeais

Sempre no intuito de defender seus ideais.

O período de Paleolítico era chamado,

Ou a “idade da pedra lascada”,

O homem comia o que lhe era dado

Não se preocupava em semear nada,

Não se fixavam em nenhum lado,

Viviam numa constante caminhada.

O sol era seu relógio orientador,

A água era conquista de grande valor.

Amaram artes mais diversificadas

Que nossa mente possa imaginar,

Algumas são, hoje, muito admiradas

E adoravam simples jogos de brincar,

Sem terem armas muito apuradas,

Eram exímios na pesca e no caçar.

A necessidade aguçava o engenho,

E a sobrevivência motivava o empenho.

Com uma técnica aperfeiçoada,

Conciliando o artístico e o agreste,

Eles matavam os animais à pedrada

E desenvolveram a arte rupestre,

Era a sua história a ser contada

De Norte a Sul, de Este a Oeste.

Tão simples imagens do quotidiano,

Tão úteis são, passado tanto ano.

Eram povos de muita origem e raça,

E verdadeiros desportistas se revelaram,

Além da técnica da pesca e da caça

Ainda a corrida em marcha nos legaram.

Em tudo punham algo da sua graça,

Costumes que até nossos dias chegaram.

Não podemos ignorar essa memória,

Seria estarmos a matar a nossa história.

Posteriormente saltaram o fosso,

Como se de uma prova se tratasse,

As armas de pedra viraram osso,

Até que a era dos metais chegasse,

Artefactos construídos a modo grosso,

O importante era que não quebrasse.

Tempos de luta constante para sobreviver,

Homens e animais, era matar ou morrer.

Como o resultado de qualquer jogo,

Ou mero acaso de simples brincadeira,

Eles descobriram a maravilha do fogo,

Que os fez ver a vida de outra maneira,

A mudança não terá surgido logo,

O medo do oculto tomava a dianteira.

Não se temia a vida mas sim o desconhecido,

A algum demónio se deve ter atribuído.

Ambiciosos e determinados como eram,

Novas vitórias a si mesmos exigiram,

Assim, novas experiências que fizeram

E a riqueza da agricultura, descobriram,

A normas e regras se predispuseram,

Da vida nómada e errante se despediram.

Assim começou nossa triste sina,

Criarmos regra que nossa liberdade elimina.

A era do Neolítico, seria de fulgor.

Deixara-se a fase do Paleolítico,

Inferior, médio e superior,

E já se atravessara a época do Mesolítico,

O homem torna-se domesticador

Abre-se um novo caminho artístico.

Estabelecem-se, junto ao rio, em aldeias,

O culto dos mortos traz outras ideias.

A técnica agrícola era desgastante,

A tomar novas opções, os obrigou,

Diminuiu o movimento constante,

A vida, nómada, definitivamente, findou,

A arte conquistou novo figurante,

Através da cerâmica, aos nossos dias chegou.

Incentivam-se as primeiras trocas comerciais,

Desponta um dos poderes infernais.

O sedentarismo despertou necessidades,

Até então, totalmente, ignoradas,

Mas eles ultrapassam todas as dificuldades

Técnicas de conservação são inventadas,

O vestuário ganha novas realidades,

Vestes de lã, linho e algodão são agora usadas.

As peles de animais dificultam os movimentos,

Tornar-se-ão apreciadas em futuros momentos.

Monumentos funerários são construídos,

Para os ente queridos preservar,

Por Antas e Dólmens ficarão conhecidos,

E ainda hoje, alguns podemos admirar,

Supõem-nos simplesmente adormecidos

E que no futuro virão a despertar.

Iniciava-se o negro culto da morte,

Quem sabe por Fé, medo, ou pura má sorte.

Atraídos pelas imensas ofertas

Que na península lhe são proporcionadas,

Chegam muitos e diversos atletas

À conquista destas terras abençoadas,

Nesses tempos não se conheciam metas,

Nem existiam tácticas erradas.

Muito mais que simples jogo, era a vida,

Tudo se resolvia numa luta ou numa corrida.

De África vieram os primeiros atletas,

Por Iberos eles eram conhecidos,

Chegando depois, da Europa, os Celtas,

Por Gregos e Fenícios antecedidos,

Ocupavam e arrasavam aldeias completas,

Não tinham contemplações com os vencidos.

Tempos de antigamente, duros e brutais,

Vencedores e vencidos, inimigos mortais.

Os Gregos deixam algo muito especial,

Ainda hoje faz o nosso encantamento,

É a sua arte, tem uma beleza tal

Que parece criada para ornar o pensamento,

Mas também a vertente espiritual

Lhes merece um especial tratamento.

Muito nos chegou da Grécia Antiga,

Talvez muito mais que hoje se consiga.

Pensamento onde entra a democracia,

Lembremos Sócrates; Aristóteles; Platão,

Primeiros grandes mestres da Filosofia

Que fizeram da Grécia a grande civilização,

Era, assim, que do solo Grego nascia

Nova ordem de interpretar a humanização.

Por entre pensamentos se faz a história,

Por entre outros se perde a glória.

De entre o que os Fenícios deixaram

Há algo que nunca poderemos esquecer,

Pois sem os caracteres que nos legaram,

Tais linhas, seria impossível escrever,

Herança que já muitos ignoraram,

Ignorando o quanto lhes fará sofrer.

Simples rabiscos não saber interpretar

É dor maior do que a que possamos explicar.

Sendo o território da futura Lusa nação

Banhado por costa marítima tão bela

Não admira a primeira e grande paixão,

Desses povos, fosse a prática da vela,

Fazendo da força do vento, o ganha-pão,

Delineando contornos de linda aguarela.

Qual ousado Deus ousaria imaginar

Que nascia aqui linda história de navegar.

Além de serem exímios velejadores

Eram também imbatíveis comerciantes,

Os Fenícios foram os fundadores

De Cartago, povo de óptimos navegantes,

Lançados estavam os pilares percussores

De feitos tão grandes e tão distantes.

Seria sobre as águas de mares e oceanos

Que se escreveriam belos feitos Lusitanos.

Os Cartagineses, com bons treinadores,

Na história fizeram questão de ficar,

Tornaram-se excelentes remadores,

Para a força do vento, nas velas, auxiliar,

Esforço nada digno de grandes senhores,

Justificava outras forças escravizar.

Aguardavam a morte remando no convés,

Tentando vencer, não a morte, mas as marés.

Celtas e Iberos decidiram-se aliar,

Foi o povo Celtibero a surgir,

Só que eles não podiam imaginar

Que em tribos se iriam dividir,

A história avançava sem parar,

O mundo continuava a evoluir.

As sementes deixadas iam germinando

Enquanto raças e crenças se iam misturando.

As tribos no cimo dos montes habitavam,

Por causa das guerrilhas de muitos anos,

De entre todas que os Celtiberos formavam

Uma se salientava, era a dos Lusitanos,

Desde cedo que estes ansiavam

Libertar-se do jugo de chefes tiranos.

Todo o povo anseia pela sua liberdade,

Nunca se resignando a outra realidade.

Era comandada por antigo pastor,

Homem robusto e corajosos, Viriato,

Que enfrentaria o novo invasor,

Os Romanos. Seria vítima de vil acto,

Tornar-se-ia no ídolo impulsionador

De novo unir de forças, novo pacto.

Os heróis são a força de um povo,

Eles caem, mas este levanta-se de novo.

Não conseguindo, o pastor, vencer

Eles resolveram inventar a corrupção,

Foram três amigos, triste de saber,

Quem o mataria, uma baixa traição,

Os Lusitanos viram-no desaparecer

Mas não enfraquecem sua determinação.

Não ousem os Deuses sequer sonhar

Que o povo se deixa, nem pela morte, derrotar.

Dois séculos de luta, vencidos os Lusitanos,

A península Ibérica é integrada

No imenso e poderoso império dos Romanos.

A vida da população é radicalmente alterada,

Adivinhavam-se duros anos,

A liberdade ficava, somente, adiada.

Se não ousam os Deuses, porque ousaram,

Os Romanos, pensar que o, ideal, matavam.

Ano 70 A.C. um poeta Latino nascia,

Foi em Andes e Virgílio se chamava,

“Eneida” a obra que o imortalizaria,

Enquanto o Império Romano dominava,

Augusto, o imperador, ali se enaltecia,

O autor, superar Homero procurava.

A obra aspirava atingir a perfeição,

Roma via-a como meio de divulgação.

O domínio Romano foi-se acentuando

Do sul para norte, mais fácil resistir,

E a vida das gentes foi-se adaptando

Às leis do senhor a quem tinham de servir,

O sonho da liberdade, asas foi ganhando,

Nunca deixou de se fazer ouvir.

Todo o usurpador se deixa cair na tentação

De pensar que os oprimidos os têm no coração.

Um dos sectores mais influenciado

Foi o da agricultura, o outro o da economia,

O solo passou a ser melhor aproveitado

Com culturas que até aí se desconhecia,

O território mantinha-se ocupado,

O descontentamento crescia dia-a-dia.

A força do império Romano não enganava,

Enfrentar tal força quem seria que ousava.

O Latim foi adoptado como língua oficial

De todos os territórios ocupados,

É feita uma divisão administrativa judicial

E os aglomerados populacionais alterados,

Nada era deixado ao acaso, tudo formal,

Os Romanos eram gestores organizados.

Comandar tão majestoso império

Requeria organização, rigor e critério.

Importantes centros urbanos criados,

Extensa rede rodoviária liga os centros,

Desenvolve-se a olaria, surgem feiras e mercados,

É a Romanização, até nos monumentos,

Não se pode negar que territórios ocupados

Eram empurrados por novos e vigorosos ventos.

O ocupador não precisa de autorização

Para implantar a sua vontade ou razão.

O império Romano quase meio mundo domina,

Mas a alguns a ideia não os seduz,

E lá longe, numa terra chama Palestina,

Um homem desafia o poderio Romano. Jesus,

Será essa tal de vontade divina

A gerar movimento que à revolta conduz.

Ninguém sonhe que um povo ocupado

Será alguma vez um povo dominado.

Apregoando um só Deus e nova religião,

Pelo mundo a sua palavra vai espalhando,

Os Romanos tentam controlar a situação

E percebem que só o calarão, Matando.

Matam, mas não evitam a propagação

Que, sabem-no bem, os vai ultrapassando.

Nem o mais forte de todos os governantes

Consegue sobreviver a injustiças constantes.

Tudo o que representara e fizera

Granjeou-lhe imensos admiradores,

O seu nascimento ditou uma nova era

E a sua doutrina congregou seguidores,

Atraiu as atenções da perigosa fera

Não temeu humilhações ou dores.

Quem nasce com áurea de libertador

Não vacila perante o mais forte opressor.

Após cerca de oito séculos a mandar,

Os Romanos, vêm chegar novos senhores.

Suevos, Germânia, os primeiros a chegar,

Foram do reino da Galécia os fundadores,

Eis que novos desafios se faziam soar,

Era preciso enfrentar novos conquistadores.

O Sangue Lusitano continuava a correr

Nas veias desta gente difícil de abater.

Este reino quinhentos anos durou,

Até que, pelo reino Visigodo, foi anexado,

Povo Bárbaro que o Cristianismo abraçou,

Depois de a península Ibérica ter unificado,

Direito Visigótico, do melhor que nos deixou,

Prolongou-se muito depois de terem abalado.

Igrejas, numerosos nomes e apelidos,

Vestígios Visigóticos que nos foram oferecidos.

O reino durou perto de duzentos anos,

Acabou por não resistir a nova invasão,

Chegavam novos senhores, os Muçulmanos,

Que adoravam a Alá e liam no Corão,

Seus costumes e tradições causaram danos

No que respeitava à prática da religião.

Adorando os seus próprios Deuses,

Viram no Cristianismo causa para reveses.

Tarik Ibn-Ziyad os comandava,

Derrotar os Francos, passados os Pirenéus,

Era sonho que mais os inspirava,

Queriam todos os territórios como seus,

Aqueles que o Mediterrâneo banhava,

Não os auxiliou o seu Deus.

Durante sua presença, largos anos,

Por aqui se viram governantes Muçulmanos.

Há muito sonhavam dominar esta região,

Mas sua presença não era bem vista.

Nas Astúrias nasce movimento Cristão

Que os enfrenta e luta pela reconquista,

Gente que se entrega de alma e coração

Na sua ânsia da liberdade prevista.

Travava-se de uma luta de Deuses, na terra,

Muçulmanos e Cristãos estavam em guerra.

Os Mouros, como eram denominados,

Tinham exército organizado e poderoso,

Pelo que os Cristãos se viram obrigados

A encetar processo de reconquista moroso,

Os alicerces foram sendo semeados,

Adivinhando-se um culminar glorioso.

Os Deuses até quem nem interviriam,

Que fossem os homens a resolver, decidiriam.

Durante a permanência nesta parte do mundo

Introduziram os seus usos tradicionais,

Produzindo um alterar significativo e profundo

No modo de viver e sentir das gentes locais,

Ainda hoje sofremos influência disso tudo,

Nunca mais nossas vidas seriam iguais.

Não aceitar ideais do povo ocupador

Não significa não aproveitar o seu melhor.

Intervieram em vários campos: arquitectura;

Literatura, com lendas de encantar; poesia.

Revolucionaram as técnicas da agricultura,

Da medicina; da matemática e da astronomia,

Eram conceitos novos para a altura,

Determinantes no futuro. A história assim o diria.

Abençoadas as gentes que sabem aprender

Com quem lhes pode melhorar o viver.

Na agricultura resolveram problemas de outrora,

Relacionados com a técnica da irrigação,

Introduziram o açude; a levada; a azenha e a nora.

Sem dúvidas, uma grande contribuição,

Mesmo assim teriam de ir embora,

Sua permanência não obtinha aceitação.

Aprender com tem algo para nos ensinar

Não significa que abdiquemos de sonhar.

Na indústria desenvolveram as artes do couro;

Da cerâmica; da seda e ainda da vidraria,

Fazendo jus ao ditado “trabalhar como um mouro”

A arte, grande, atenção lhes mereceria,

Acabou por se tornar uma era de ouro,

Que a Península Ibérica lhes agradeceria.

Assimilavam-se preciosos ensinamentos,

Alimentavam-se libertadores sentimentos.

Corrigiram problemas de longos anos,

Introduziram o zero na numeração,

Algo que faltava na numeração dos Romanos,

E que complicava toda a aritmética operação,

Negar o contributo dos Muçulmanos

Seria faltar à verdade da história da evolução.

Não fossem diferenças tão acentuadas,

Talvez os Deuses aceitassem devoções partilhadas.

No que diz respeito à arquitectura,

A representação humana é proibida pelo Corão,

Eles utilizavam o arco em ferradura

E motivos geométricos, arabescos, na decoração,

É tudo uma pura questão de cultura,

Com fortes influências do factor religião.

Deuses e homens em perfeita harmonia,

Onde cada Deus emanava sua profecia.

Decorre ano de seiscentos trinta e dois,

Algo acontece a nível internacional,

Irá influenciar, durante muitos sóis,

Todo o desenvolvimento mundial,

Tendo cota significativa, anos depois,

Na fundação do reino de Portugal.

Maomé morre, era o homem da paz,

Árabes reeditam guerras de tempos atrás.

São vagas de exércitos em guerra,

Enfrentam Persas Sassânidas e Bizantinos,

Tremem todos os recantos da terra,

Soldados caem quais débeis meninos,

Tanto sangue humano aqui se enterra,

Ocupam Síria, Egipto e terra dos Palestinos.

Norte de África é palco de ocupação,

Árabes não perdoam tanto ano de invasão.

Mais de trinta anos resistem os dominadores,

Xá da Pérsia, Cabul, o último a cair,

Imperio Persa constituía um dos maiores,

Sobreviveu, conseguindo não restituir

Sua capital, cidade berço de valores,

Constantinopla, continuava, assim, a luzir.

Império Muçulmano, a muito mais aspirava,

Sobre a India e Península Ibérica se lançava.

Quanto mais tem, mais o império avança,

Ilhas Mediterrânicas também são tomadas,

Tal como sul de Itália e terras de França,

Grandes sementes culturais são lançadas,

Estimulam a tolerância, ganham confiança,

Cresce e zonas longínquas são abandonadas.

Bizantinos e Francos guardavam, na memória,

Épocas de conquistas onde era sua a vitória.

Pelágio, ano de Setecentos e dezoito,

Figura, de quem pouco se conhece,

Revela ser guerreiro bastante afoito

Mostrando que o sonho Cristão não arrefece,

Organiza os seguidores no seu couto

E pelas montanhas Asturianas desce.

Fosse Rei Visigodo, um Asturiano nativo,

Ou Duque da Cantábria, manteve o sonho vivo.

Setecentos vinte e dois, primeira vitória,

Covadonga, do movimento Cristão,

Utilizando tácticas guardadas na memória,

Viriato o inspirador em questão,

Ninguém procurava fama ou glória,

Entregando-se ao sonho de alma e coração.

Alexandro Herculano tal tese defenderia,

A trombeta de Pelágio bem alto se ouviria

Assim renascia o movimento Cristão,

Que não abdicava do seu religioso ideal,

Formara os reinos das Astúrias; Castela; Leão;

Aragão e Navarra, rumo à reconquista total,

Eram diferentes estes tempos de então,

Fosse hoje e nada mais seria igual.

Começaria nesta luta contra os Muçulmanos

O abrir do caminho ao reino dos Lusitanos.

Sonho sustentado numa lenda sã,

Santiago surgiria, miraculosamente,

Em vários combates da reconquista Cristã,

Lutando ao lado da sua gente.

Matamoros lhe ficou de alcunha nada vã,

Ouvindo-se seu grito na linha da frente.

“Santiago y cierra España” grito que se ouvia,

Exército Português, como protector o adoptaria.

Século dez, acentua-se a desagregação,

Influências de grupos de mercenários,

Na sua maioria convertidos ao Islão,

Querem novos reinos, ataques são diários,

Turcos Seljúcidas lhe fazem oposição,

Territórios reunificados contam-se vários.

Turcos Seljúcidas e Otomanos são diferentes,

Estes, antepassados dos Turcos presentes.

Que nos poderão tais factos importar

No desenvolvimento da história Lusitana?

É muito pertinente o leitor questionar.

Complexa, bastante, a história humana,

Todos os momentos se tendem a interligar,

Deveras importante a acção Muçulmana.

Mil e setenta e um, Manzikiert, Turquia,

Exército Bizantino pesada derrota sofria.

Romano quarto, Bizantino imperador,

Pelos Turcos Seljúcidas é capturado,

Constantinopla sofre humilhação maior,

Nunca mais o imperador será perdoado,

Seu regresso faz-se por entre ódio e dor,

Bizantinos cegam-no e parte exilado.

Turcos Seljúcidas vão muito mais além,

Mil setenta e oito, tomam Jerusalém.

Séculos dez e onze, Império Bizantino

Debate-se com grandes dificuldades,

Desvia-se do caminho fulcral, campesino,

Tribos nómadas revelam novas vontades,

Querem ser donas do próprio destino,

Perdas de territórios são puras realidades.

Península Itálica, pelos Normandos tomada,

A população Bizantina está fragilizada.

Aleixo primeiro Comneno, desesperado,

Pede ajuda às gentes do ocidente,

Turcos Seljúcidas trazem-no ameaçado,

Cristãos apercebem-se do perigo iminente,

Jerusalém é território bastante desejado,

Por peregrinos e Cristãos do oriente.

Mil e noventa e cinco, vinte sete de Janeiro,

Concilio de Clermont, lança-se desafio pioneiro.

Papa Urbano segundo revela sagacidade,

“É imperioso libertar a Terra Santa,

Podemos dar à expedição outra validade,

Forma de penitência”, Oh esperteza, quanta

De ti não despertou nobre ansiedade,

Desvalorizando toda a consequência, tanta.

Nobres e povo aceitam desafio Papal,

Preparam uma expedição sem igual.

Mil noventa e seis, a ideia até agrada,

Organizar movimentos de solados,

Estava lançada a semente da cruzada,

Homens sempre prontos a serem chamados

“Ao toque da trombeta e bandeira desfraldada”

Respondiam velozmente aos apelos lançados.

Reconquistar todo o território peninsular

Ideal que durante séculos os vai orientar.

Homens dispostos a dar sua vida

Partem rumam a terras de Ocidente,

Cruz vermelha nas suas roupas cosida,

Torna-se símbolo desta singela gente,

Homens, cuja participação destemida

Daria ao mundo, uma cor diferente.

Simples Cruzes Vermelhas desenhadas

Tornar-se-iam no símbolo das Cruzadas.

Nove são as tradicionalmente faladas,

Movimento permanente na realidade,

Nem todas se revelaram bem organizadas,

Algumas primavam pela baixa qualidade,

Vários reis se aproveitam das cruzadas,

Novas conquistas, força em quantidade.

São cavaleiros em constante demanda,

Já não só a fé que os motiva e comanda.

Conquistas, feitas de recuos e avanços,

Que nos deixaram importantes legados,

Nem tudo foram vitórias ou falhanços,

Muito, ainda hoje, devemos aos cruzados,

Possibilidade houvesse de fazer balanços,

Talvez até ficássemos bem admirados.

Basta recordar que entre essas heranças,

Nasceram e edificaram as Lusas esperanças.

Cruzadas não eram só boas intenções,

Significavam muita cobiça e brutalidade,

Por onde passavam arrasavam multidões,

Sexta cruzada terá escapado à normalidade,

Reis forneciam-lhe guarida e provisões,

Esperando, em troca, alguma vila ou cidade.

Cristianismo e Islão não mais conviveram,

Judeus, Árabes, até Cristãos, muito sofreram.

Alem de influenciarem a cavalaria,

Fortaleceram relações económica/culturais,

Comércio Europa- Ásia muito cresceria,

Produtos desconhecidos tornam-se habituais,

Algodão e açúcar, a Europa não os conhecia,

Mas as cruzadas deixaram-nos muito mais.

As investidas contra o mundo do Islão

obrigaram a “Jihad” a parar sua expansão.

Por todo o mundo há reinos Muçulmanos,

Algo visto, pelos Cristãos, sem agrado,

Grandes hostes de soldados, todos os anos,

Partiam em defesa do poder conquistado,

Eram guerreiros confiantes e ufanos,

Após, em Compostela, terem rezado.

Barra do rio Douro e a baía de Lisboa,

Pontos de escala por onde tudo se escoa.

Afonso VI, rei de Leão, vê força que avança,

São nobres Cristãos numa das cruzadas,

Peças importantes no ganhar de confiança,

Trata-se de bons executantes do jogo das espadas,

O Cristianismo vê renascer a esperança

De que suas terras sejam reconquistadas.

Os Muçulmanos preparam-se para resistir,

Não pensam abdicar do que vinham a construir.

Dois desses nobres e afamados cruzados

Condes e primos, D. Henrique e D. Raimundo,

Depois, além de primos, ficaram cunhados,

O primeiro ficou a dever vassalagem ao segundo,

Estavam lançados todos os dados

De onde se construiria um novo mundo.

Não estavam vencidos os Muçulmanos,

Seria tarefa para durar ainda muitos anos.

D. Henrique casa com Dona Teresa,

D. Raimundo torna-se no herdeiro real,

Aquele recebe terras da origem Portuguesa,

Seria pai do primeiro rei de Portugal,

Terá demonstrado pouca firmeza

Na defesa daquele que seria seu ideal.

Pode ser outra a realidade da história,

Mas esta nos foi inculcada na memória.

Eram terras do Condado Portucalense,

Feudo do reino de Leão e Castela,

Vimara Peres fundou um, antes desse,

Condado de Portucale, pequena janela

Que, posteriormente, a Galiza pertence,

Entre Douro e Minho, seria a parcela.

Oitocentos sessenta e oito, a fundação,

Mil e setenta e um, Galega anexação.

D. Henrique não ficou contente,

Por aquela vassalagem ter de lhe prestar,

Assim, num território independente,

Ele terá começado a perspectivar,

Correria nas suas veias sangue desta gente

Que nunca teve medo de sonhar.

As lutas revestiam-se de imensos ideais,

Nem sempre disputadas com meios leais.

Volta de mil cento e doze, a morte o atraiçoou,

Sem ter tornado o condado independente,

D. Teresa o governo do condado assegurou,

Provocando a ira de muita da sua gente,

O povo Lusitano como que adivinhou

Os pensamentos que lhe povoavam a mente.

Não existem registos muito concretos

Que nos possam garantir estarmos certos.

D. Teresa tinha reconhecimento legal,

Primeiro por sua irmã, D. Urraca,

Senhora de Leão e Castela da coroa real,

Depois pelo sobrinho e pelo Papa.

As relações começaram a correr mal

Quando a ambição mais além abarca.

D. Teresa começa a intitular-se rainha,

Sonho em que nunca estará sozinha.

Fernão Peres de Trava está com ela,

Trata-se de nobre Galego e poderoso,

Não o aceita a coroa de Leão e Castela,

Atacada refugia-se no Castelo de Lanhoso,

Mil cento vinte um, termina a querela,

D. Teresa assina tratado habilidoso.

Valiosos dividendos ao Galego são dados,

Deixando nobres Portugueses revoltados.

D. Teresa abandona os ideais do marido

Ao nobre Galego, uma filha irá dar,

Revolta-se o filho, que será escolhido

Para a revolta, contra sua mãe, chefiar,

Episódio na Lusa história muito repetido,

Sem fontes que o possam confirmar.

Fazer emergir mitos e Heróis nacionais

Constituía uma das estratégias tradicionais.

Quanto de mito, quanto de realidade,

Existirão em episódios tão remotos,

Pouco importa a pureza da verdade,

Heróis ou vilões, todos estão mortos,

Ficando-nos, apenas, dessa dura idade,

A história escrita nos nossos rostos.

Fosse por ambição ou por mero engano,

Assim se iniciava o sonho Lusitano.

Francis Raposo Ferreira

FrancisFerreira
Enviado por FrancisFerreira em 18/11/2012
Código do texto: T3992762
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