D. Sancho I - Plantando Lusitanidade

D. Sancho I - Plantando Lusitanidade

D. Sancho I tem só doze anos de idade

Quando faz a sua estreia militar,

Resultou num autêntico fracasso, é verdade,

Mas serviu para grande lição tirar,

Nesse tempo ser cavaleiro era vaidade,

Quem não mostrasse coragem, não poderia reinar.

Os jovens iniciam sua vida militar bem cedo,

Queriam demonstrar não ter medo.

Cidade Rodrigo foi o alva da expedição,

Contra o rei de Leão, Fernando segundo,

Os ensinamentos retirados da lição

Foram armas para encarar o mundo,

Eram estratégias de pura preparação

Para se saber sua têmpera lá bem no fundo.

Aspirar a ser Rei da ilustre Lusa gente,

Implicava determinação para seguir em frente.

Armado cavaleiro em mil cento setenta

Ajuda o pai, debilitado desde Badajoz, a reinar,

Ao subir ao trono, por uma vertente se orienta,

O povoamento do território, e começa a actuar,

Imigrantes, na Flandres e Borgonha, arregimenta,

Para as povoações mais remotas, povoar.

Tal preocupação lhe dá o cognome de “Povoador”,

Com dezanove filhos daria o exemplo maior.

Não terá nascido destinado a reinar,

Seu irmão D. Henrique seria o sucessor,

O destino tudo se encarregou de alterar,

Conduzindo-o ao cargo de rei e senhor.

Com nome de santo se vira baptizar,

Obrigaram-no a escolher um outro melhor.

Martinho, em Sancho Afonso se tornou,

Não era nome Hispânico, tudo se acertou.

Contando trinta anos, e um mais,

Assume o trono, ignora Papais obrigações,

Desenvolve instituições municipais,

Aos concelhos fronteiriços dá condições

E grandes regalias, atribui novos forais,

Vê nas ordens religiosas poderosas uniões.

D. Sancho I inventa o pagamento adiantado,

Celestino III, o Papa, sente-se enganado.

Alega que seu pai, anterior rei dos Lusitanos,

Teria feito um antecipado pagamento,

Teria pago, de uma só vez, por dez anos,

O Papa não aceitou tal argumento,

D. Afonso Henriques só usara uns enganos

Para obter o eclesiástico reconhecimento.

Jogava-se um jogo do gato e do rato,

Reis e Papas tinham visões distintas do contrato.

D. Sancho I via-se de braços atados,

O Papa não se rende, nem se comove.

Aproveitando a passagem dos cruzados,

Em mil cento e oitenta e nove,

Conquistar territórios ao sul situados.

É novo objectivo que o move,

Aceita as imposições do Papa, sem opção

Envia o dinheiro a Roma, recebe a absolvição.

O castelo de Alvor o primeiro conquistado,

Um cerco quarenta e três dias iria durar

Até a cidade de Silves passar para o seu lado.

Rei de Portugal, Silves e Algarve se faz intitular,

Nesta ultima conquista se viu ajudado

Por seu meio-irmão. O rei o irá recompensar.

D. Sancho dá-lhe o cargo de alcaide de Seia

E furtar-se ao pagamento à Santa Sé, planeia.

O Papa determina a sua excomunhão,

Ás portas da morte aceita as exigências Papais,

No seu reinado, o ouro sofre amoedação,

E há Portugueses em universidades internacionais,

Do seu reinado nos chega uma bela explicação

Das mordomias exigidas pelas comitivas reais.

Carneiros, porcos, vacas, peixe, galinhas e vinho,

Suficiente para todos, o rei nunca viajava sozinho.

Tudo ficava a cargo da população,

Até mesmo as panelas e tachos necessárias,

Só as destinadas ao Rei é que não,

Essas mereciam atenções extraordinárias,

Nem sequer era esquecida a alimentação

Destinada aos cães, eram exigências várias.

D. Sancho I não se lembrava do Papa,

Pagamentos, vai sendo algo que lhe escapa.

Foi enquanto D. Sancho I reinava

Que chegou a Portugal, Vila de Alpedriz,

A ordem religiosa de Calatrava.

Que foi a precursora da ordem de Avis,

Nessa altura ninguém sequer sonhava

Como viria a ser importante para o país.

Reinou vinte e seis anos em Portugal,

E acumulou um valoroso tesouro real.

Ignorar as recomendações do Papado

Nem sempre se revelou como negativo,

Se assim não fora, não se teria casado

Com D. Dulce de Aragão, o motivo,

Roma temia o poder daí saído, e reforçado,

D. Sancho I era homem esperto e vivo.

Sentia, pelos homens do Clero, desprezo

Tomando atitudes de cariz controverso.

D. Sancho I sempre respeitou o casamento,

Coisa, nessa época, pouco habitual,

Não se lhe conhecendo nenhum relacionamento

Antes da morte da companheira conjugal,

Sendo que depois do seu desaparecimento,

Teve uma grande actividade sexual.

Maria aires de Fornelos e Maria Pais da Ribeira,

Grande foi a prole que lhe veio desta maneira.

Ambas tinham lugar certo na corte,

Acompanhando-o sempre que se deslocava,

D. Sancho I era, assim, homem de sorte,

A Ribeirinha, mulher sedutora, o encantava,

Mantendo uma influência bem forte,

Facto que a Inocêncio III não agradava.

O Papa não hesitou em chamar de feiticeira

À opositora, D. Maria Pais da Ribeira.

Demonstrando toda a sua esperteza,

D. Sancho I, na hora da morte, pediu paz,

Era indispensável à sucessão Portuguesa,

Jogos que só o interesse nos traz,

O que viria a desocultar uma certeza,

De acumular grande riqueza, ele, fora capaz.

Doou bens aos parentes e seus amigos,

Onde constam tesouros dos mais antigos.

Cruz com pérolas e pedras preciosas,

O que lhe valeu receber “Bom”, por cognome,

Entre outas características mais valiosas

São-lhe atribuídos dotes de poeta de renome,

Cantigas de amigo e mais algumas prosas,

Terão enchido seu largo alforge.

Conquistou, por direito próprio, lugar na história,

Ainda que a sombra do pai, ofusque a memória.

Foi durante a vigência do seu reinado,

Mil cento noventa e cinco, mais concretamente,

Que nasceu o nosso Santo mais adorado,

Fernando de Bulhões se chamou inicialmente,

Como Santo António seria imortalizado,

Na alma e no coração da Lusa gente.

Filho de gente não rica mas bem remediada,

Sua ascendência nobre nunca foi confirmada.

Seu nome de baptismo era homenagem,

Seu tio paterno, mestre-escola na Sé,

Aqui viria a fazer grande aprendizagem,

E veria desabrochar toda a sua Fé,

Aos quinze anos iniciava vital viagem,

Construindo o caminho pelo próprio pé.

Entrou nos claustros regrantes de Stº Agostinho,

Depressa enveredou por novo caminho.

Santa Cruz de Coimbra, aí se fez notado,

Tudo que lhe coubesse fazer, era o melhor,

Seu carácter aqui se veria consolidado,

Na entrega ao seu semelhante e ao Senhor,

Tratando-se de um jovem tão inconformado,

Necessitava algo mais, sua veia de pregador.

Sendo, das escrituras, profundo conhecedor,

Tornou-se de S. Francisco de Assis, seguidor.

Adere aos Franciscanos, nos Olivais,

Movido pela força da eterna insatisfação,

Aí decidiu, Fernando não o serei nunca mais,

António, o nome que mereceu sua atenção,

Depressa sente outros apelos, outros sinais,

Nada lhe satisfaz toda aquela inquietação.

África lhe é revelado como seu destino,

Aceita o desafio como um jogo de menino.

Enfrenta tremendas e penosas dificuldades,

Colocando mesmo, sua saúde em perigo,

Embarca para Portugal, valentes tempestades

Levam o navio até distante porto de abrigo,

Sicília, Itália, abrem-se novas oportunidades,

Vai até Assis, sente-se a encontrar-se consigo.

Em Bolonha priva com Francisco de Assis,

Mil duzentos e vinte e um, sente um ar feliz.

Ministro das missões difíceis, Professor

De Teologia da Ordem Franciscana,

Descobrira uma maneira de servir ao Senhor

E intervir na luta contra a pobreza humana,

Sobressairia na vida de tão ilustre pregador,

A humildade própria da gente Lusitana.

Adoptou os pobres como causa da sua vida,

Recebendo a gratidão da gente desprotegida.

Viveu no inconformismo e inquietação,

Nunca olvidando os traços da humildade,

Deambulava entre o misticismo e a pregação,

Defendendo os humildes e a simplicidade,

Falando menos ao espirito e mais ao coração.

Morreria com trinta e seis anos de idade.

Mil duzentos e trinta e um, treze de Junho,

Gregório IX o canonizou por Bula de seu punho.

Mil duzentos e onze, voltamos ao passado,

D. Sancho primeiro diz “Adeus até mais”,

Dando assim o seu reinado por terminado,

Coimbra recebia os seus restos mortais,

Está na igreja de Santa Cruz sepultado,

Deixando a seu filho os destinos nacionais.

Tempos de imprevisíveis dificuldades,

Onde monarcas tinham de conciliar capacidades.

D. Sancho tinha a povoação na ideia,

Atribuindo Foral, prova de confiança;

Mil cento oitenta seis, as beirãs Gouveia

E Covilhã, um ano depois é Bragança,

Tal como Viseu. Quer ver a terra cheia,

Sabe que só assim é que o reino avança.

Mil cento noventa e nove, é fundada

Importante fortaleza, a cidade da Guarda.

D. Sancho primeiro foi homem de visão,

Conseguindo ver muito à sua frente,

Casar com a irmã do rei de Aragão,

Não foi uma decisão assim tão inocente,

Casamento que selava importante união,

Num caminhar que se sabia exigente.

D. Sancho foi, além de grande cultura,

Um marido exemplar, de nobre postura.

D. Dulce era ainda uma criança, doze anos,

Quando foi prometida em casamento,

A D. Sancho I, ilustre rei dos Lusitanos,

Foi seu pai o autor de tal acontecimento,

Simples jogos de puros interesses humanos,

Ninguém ousava contestar tal consentimento.

Sua mãe, rainha de Aragão, doou-lhe a beleza,

Com que chegou a Coimbra, já com Realeza.

Tinham casado três anos antes, por carta,

O que não influiu no respeito real,

Mesmo quando um falso rumor a ataca,

Dizia que a jovem rainha não seria leal,

D. Sancho I não acredita e descarta

A possibilidade de a afastar de Portugal.

Instigaram que certo cavaleiro da corte

Seria seu amante, não tiveram sorte.

Mulher ponderada, mantinha-se discreta,

Não interferido nos assuntos da governação,

Preferindo gerir as propriedades, oferta

Do marido, bem como a promover a aquisição

De mais bens, e, de uma forma quase secreta,

Entregar-se a tarefas ligadas à religião.

D. Dulce era mulher piedosa e beneficente,

Assim o reza a história desta Lusa gente.

Francis Raposo Ferreira

FrancisFerreira
Enviado por FrancisFerreira em 20/11/2012
Código do texto: T3996196
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