BRASILBÓLIA 02 - A BOLA E O PROGRESSO
Brasil, que terra é esta rica e tão estranha,
Com povo tão disperso e tão original,
Com Natureza de um matiz que o mar entranha
Faltando nela uma harmonia estrutural?
Em ti terá lugar o celebrado ingresso
Colocando em debate a Bola e o Progresso.
Brasil, com fonte nominal em pau-brasil
Nas ondas de memória sempre estimulantes,
Fizeram-te colosso em aventuras mil
Soberbos capitães e bravos bandeirantes.
Enfrentarás o preço de um débito duro
Se não puderes chegar ao teu porto seguro.
Brasil, dos bandos dos sem-terra e dos sem-teto,
Dos bandos dos sem-nome e dos sem-dignidade,
Dos sem-lugar (que habitam hoje a céu aberto),
Dos sem-direitos, dos sem-lei e sem-vontade.
Dir-me-ás, ó Brasil, para quando a afeição
E a partilha dos bens a toda a real Nação?
No meio da bandeira colocaste o Mundo,
A cor dourada e esverdeada são o sinal,
E a ordem e o progresso, como bem profundo,
Numa engrenagem sempre unida por igual.
Dir-me-ás, ó Brasil, o que fará tão poucos
Terem tudo e tão muitos sentirem-se loucos?
A Ordem que sonhaste não está presente
E a turba agita-se por detrás do Corcovado
E em sua vez que é que tu dás à tua gente
Sem esperança de ver um tempo renovado?
E para que não haja o perigo de uma zanga
Esta é a hora de um forte grito de Ipiranga.
Quanto ao Progresso, onde encontrar a sua virtude?
Foram-se os Carnavais e vem agora a Bola,
Ficando ao lado a educação e a saúde
E o ganha-pão, enfim, só chega por esmola.
Neste, horizonte tão estreito e sem medida,
Ergue as mãos, ó Brasil, à Senhora d´ Aparecida!
Frassino Machado
In A MUSA DOS ESTÁDIOS