Caminho escuro
Nas senzalas do passado
vem vindo as crianças
com os pés descalços
guardando velhas lembranças
negros no olhar
reluzentes à luz
as margens da dor
sem a causa da vida
e com saudade do amor
cantando a canção
que os motiva a caminhar
com pedregulhos ali para lhe derrubar
e os gritos soando em meio ao ar
das chicotadas do capataz
"tudo bem, patrão, não faço mais".
A saudade volta a assolar
o peito dos pequeninos
a razão desse destino
nem o tempo dirá
ao passo que caminham
as correntes tornam a lhe puxar
e,talvez,um dia, esses meninos verão
o cadeado abrindo,
uma nova emoção surgindo
a liberdade sonhada a espreitar.
Uma voz berrando, nos pensamentos atordoados,
"deixem-nos sair" ou quem sabe
"libertos podem ir"
um dia isso ainda vai acontecer
pensa o moleque, sem perceber...
e assim começou o grito do crioulo
chicoteado: Livre estou!