Nunca Mais Outra Vez

As moedas que empunhas não eram um símbolo

Mas a interpretação que tu fazias da vida

Corrompida pela promessa tardia de prosperidade

O feitiço material que come e comove os homens

Às vezes sonhos nos escapam como rosas murchas

Há algo que resiste as pretensões do surrealismo

E esse espelho de sensatez, engole-me toda a noite

Em que me empenho em performar liberdade nas ruas

A filiação é emprestar os sentidos

O que me mata é abominável, horrendo

O que me ama, é zeloso e prático

Aquilo que evito é fruto e o inimigo

O inferno precisa de suposições para confabular

Nomes, preferências, estatísticas, estigmas

Principalmente, candidatos, suas vergonhas e tabus

Não se engane, o inferno é aqui. Não há nada pior que a vã existência

O que deveria ser desejo e desorganização

Entalha sucessão, traumas e despedidas

O inevitável era o óbvio azul da primeira hora da noite

Sob a impotência da língua dizes: A espreita, bom doutor

Onde estão os incendiários do pudor e ética?

Os quero em minha mesa, cerrando meu corpo

Bebendo do meu sangue, invejando meus olhos tardios

Contemplando meu eterno desajuste em atos de carnavais

Engole o delírio, cerre os punhos

Mastigue a língua, rejuvenesça os dentes

O corpo trajado à ferramentas do culto

Se falhares, compre a anorexia de uma vez

Querer viver nas abóboras que ainda sonham

Seria tão criminoso assim no ano da anistia de cadáveres?

O esquecimento é a pólvora escorrida da angústia

Eu sou o mapa de minhas dores, não negocio essa vocação com transeuntes...

Pierrot Ruivo
Enviado por Pierrot Ruivo em 30/05/2022
Código do texto: T7526721
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.