Desagravo Nacional

"O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons."

Ilusão: tempo moderno.

César permanece vivo,

Adorado, copiado

Pelos ditames do Estado.

Só Gregório que morreu…

E uma baiana sua parenta

Nesta Praça Castro Alves

Encarna o Boca do inferno!

— O Brasil é boa empresa

Em que lucra pouca gente,

Que escraviza a maioria

Cuja lide todo dia

Vive para produzir

(Sob o látego de impostos

São dois olhos que vigiam)

Os pertences de outra mesa.

— No seu bolso sobra espaços:

Ao dinheiro (coisa rara)

A consumo de produtos

Que o suor o seu os frutos

Derramado produziu

(Para a classe dos feitores,

Nessa colônia auriverde),

Com a cuca, gana, braços.

— O cinismo então prospera

Numa lógica satânica,

Por políticos herdeiros

Dos seus bens dos brasileiros

Usurpados pelo Estado

O qual se arma até os dentes

Que vigia todo o espaço

E legisla, julga, impera...

— Os conceitos sem sentido:

Pátria, lhe garante o quê?

Qual direito soberano

Merecido ao ser humano:

De morrer no chão sagrado

Na penúria tendo nada

Feito pária além da Índia

Invisível, preterido?

— Quando a bolsa de Paris

Ostentada a tiracolo

De qualquer primeira dama

Cujo carro esguicha lama

(Tão veloz vai seu chauffeur)

Sobre o corpo dos mendigos

Sem a massa que console

Nem meleca há no nariz?!

— Ó consórcio singular!

Na colônia que perdura,

Reproduz-se mais miséria

Só aos filhos de Quitéria.

Nunca para a oligarquia

De burgueses, ex-senhores

Que consomem carne e vinho

Têm no reto o que expulsar...

— Há quanto tempo explorado

O humano afrodescendente

Longe assim do seu Torrão

Sofre tanta exploração…

São mais de quinhentos anos

Em papel sempre menor

Salvo u'a rara minoria

Sem o dano reparado?!

— Ainda mais a vó Jurema

Com a sua tribo à favela

Foi somada a outros índios

Muitos povos ameríndios

Contra a ordem que vigora

Cedo a óbitos expostos

Com os negros - oh! desgraça!

Dos Brasis - o antigo tema…

— Onde já se ouviu dizer

Que ter saldo positivo

Afinal é o que importe

A moeda seja forte,

Se não haja no orçamento

Gasto público decente

Em saúde e educação

Faça digno o viver

Do patrício todo o homem

Ser vivente vale mais

Mais que cifra e saldo azul

No Brasil de norte a sul,

É melhor que ter em caixa

Mas confirme o IBGE

Menos lázaros no esquife

Pois dum pão todos o comem.

— Superávit, o que há

Para o bem do capital

Pode ser um crescimento

E não desenvolvimento

Ao país em que a riqueza

Por ser muito concentrada

Nos iguale a haitianos

Hermanos de IDH...

— Ó patrícios mui amados!

De existência mesmo efêmera,

Nunca deixem de lutar

Por decência e bem-estar

Sobre o solo seu também,

Da união surge a vitória,

Seja o seu – Deus de felizes,

Não de escravos, desgraçados.

Seraphim
Enviado por Seraphim em 16/09/2022
Código do texto: T7607211
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