Retirante

Segue o retirantre pela vida afora

Levando consigo tristeza e solidão

Forçado foi de sua casa ir embora

Quando a seca chegou

E lhe roubou o pão.

O açude secou

E a última vaca esquelética

Para traz, esticada ficou

E até a natureza de tão seca

Nunca mais chorou.

Segue o retirante em triste cortejo

Mulher, criança e cão

Todos fracos e esquálidos

Vítimas da sequidão.

Apesar de tudo o retirante é forte

Não é capaz de temer

Nem a fome e nem mesmo a morte

Enfrenta a vida, tem esperança

De um dia em outras terras,

Fincar os pés, achar bonança,

Poder plantar, colher,

E sem temor

Ver o seu filho crescer

E se tornar doutor.

A noite chega e ele se aquieta

E dá vazão à sua alma de poeta

No palco estrelado do firmamento

Entoa uma canção

Que é mais um lamento.

Nos braços da viola empoeirada

Numa noite linda, enluarada

Ponteia triste melodia

Pois o nordestino

Traz no seu sangue a poesia.

Depois cansado, no colo da noite,

Sonha mais uma vez

Com sua eterna utopia.

Deusinha
Enviado por Deusinha em 09/11/2008
Código do texto: T1273972