Retirante
Segue o retirantre pela vida afora
Levando consigo tristeza e solidão
Forçado foi de sua casa ir embora
Quando a seca chegou
E lhe roubou o pão.
O açude secou
E a última vaca esquelética
Para traz, esticada ficou
E até a natureza de tão seca
Nunca mais chorou.
Segue o retirante em triste cortejo
Mulher, criança e cão
Todos fracos e esquálidos
Vítimas da sequidão.
Apesar de tudo o retirante é forte
Não é capaz de temer
Nem a fome e nem mesmo a morte
Enfrenta a vida, tem esperança
De um dia em outras terras,
Fincar os pés, achar bonança,
Poder plantar, colher,
E sem temor
Ver o seu filho crescer
E se tornar doutor.
A noite chega e ele se aquieta
E dá vazão à sua alma de poeta
No palco estrelado do firmamento
Entoa uma canção
Que é mais um lamento.
Nos braços da viola empoeirada
Numa noite linda, enluarada
Ponteia triste melodia
Pois o nordestino
Traz no seu sangue a poesia.
Depois cansado, no colo da noite,
Sonha mais uma vez
Com sua eterna utopia.