O Caboclo e o Barranqueiro
O CABOCLO E O BARRANQUEIRO
O dia nem clareou.
Ele beija a mulher
E as crianças.
Às costas
A tarrafa.
E a rede na canoa
Meio que embolada
Faz companhia aos remos
Que também espera a hora de partir.
O frio não é inimigo
As remadas sincronizadas
Dão o tom à dança da canoa
E aquele nosso sonhador e a canoa
Vão rio acima
Na olhos do Barranqueiro
Dá pra se lê
É a ânsia pela pescaria farta!
A tarrafa sobe
Cai sobre a água feito um manto
A cada puxada
A esperança da fartura!
E nada!
As redes?
Armadas e quietas
Abala mais e mais o sonho do guerrteiro!
A Iara canta!
-Ih,ih,ih,ih,ih,ihih,ih,...
Os pássaros voam felizes!
As Garças com a cor da paz
Sobrevoam e colorem o céu!
Na encosta
Alguns pescadores e suas varas
E os peixes ao fundo
Passeiam
sem nada entenderem.
E vai findando o dia
À noite principiando
E o nosso mago dos rios
Com seu semblante vazio
Prepara para o retorno.
Mas...
Para o espanto do incansável
Algo toca em sua canoa.
E de repente:
- Hei moço!Tem cachaça aí?
Aqueles olhos avermelhados
Mãos enormes
E corpo peludo
Era uma criatura estranha!
ele mais que depressa
Tirou do embornal
Um pouco daquela cachaça
Que sempre carregava para ajudar a aquecer as noites frias
E lhe deu.
Trêmulo!
Mal dava conta de segurar o coité.
Também pudera,
Nunca tinha visto aquilo!
Ele bebeu
Olhou a canoa canto a canto
E tichibum...
Dentro D'água!
Mais parecia um peixe.
Ali boquiaberto imaginava tudo!
Só não teve medo por ser um homem de fibra.
Não demorou muito e:
- Hei moço!Tem fumo aí?
Aqueles dentes amarelos!
Um bafo ardido!
Nosso pescador
Tirou uma masca e lhe deu
Ele mascou,mascou,mascou...
E tichibum...
Novamente dentro d'água.
Já não faltava acontecer mais nada!
Ele ali cabisbaixo e pensativo
Sem saber o motivo.
E de repente...
Aquelas mãos traziam peixes,peixes e mais peixes!
Era muito peixe!
A canoa abarrotada ameaçava a se afundar.
O sorriso foi aparecendo lentamente
Misturado à pressa de ir embora
Para rever a mulher e os rebentos
E levar aquele sagrado alimento!
E a criatura agradece:
- Hei moço!
Isso é pra pagá a sua bondade.
Eu tava louco mode uma cachacinha e um masca de fumo!
Vai agora!
Quando pricisá de mim
É só gritá
Eu sô o Caboclo D'água
Tô aqui pra te ajudá!
As remadas eram mais rápidas!
A vontade de chegar em casa era tão grande!
Já dava pra avistar a família.
Ao longe mulher e filhos.
O mais novo dos cinco
O reconhecia
Aquele cãozinho
Levantava e latia
Até ele já sabia!
Era a certeza da volta
Era o alimento
Alimento que Jesus multiplicara
E com certeza
Também iria multiplicar.
Abraços,sorrisos,beijos...
Na alma o segredo
Na face do Barranqueiro
O anúncio
No ouvido
A voz do caboclo
No coração
A fé!
Agora ele vai descansar
Adormecer nos braços da noite e da amada.
Mas logo ele estará de pé
Tarrafa às costas
Uma canoa companheira
Uma rede tímida
E na mente
A esperança de novamente encontrar o Caboclo.
No embornal
A cachaça e o fumo
Claro!
Ah!Que vontade de acompanhá-lo!
Mas eu não vou não sabe!
Eu vou ficar é aqui!
Assistindo ao encontro
De outro Barranqueiro e o Caboclo D'água!
Essa estória vai longe!
E você?
Que fazer parte dela?
É só pegar a tua canoa
E bailar sobre o rio!
Mas não se assuste!
Ele tem histórias!
Seja amigo dele!
O Caboclo é amigo
Não é Caboclo?
- Há,há,há,há,há,há...
Seja bem vindo!
Eu não disse?
Venha!!!
O rio também é amigo!
É o Velhas e seus encantos!
Tinga das Gerais