DOIS SERTÃO - Poema Matuto

Retrato de cena triste;

a macambira queimando,

gado faminto isperando,

inquanto a sêca persiste.

O sertanêjo arrisiste,

a essa crué tortura.

Da cacimba qui êle fura,

a água é pôca e saigada,

e a fome é só inganada,

cum macássa e rapadura.

É essa, môço, a paisage,

do interiô nordestino.

Pois na sêca, seu minino,

água prá nóis é mirage.

A indústria da istiage,

parece gostá do inferno.

A vida é um sofrê eterno,

vai se vivendo, é o jeito,

só se surrí sastisfeito,

quando infim, chega o inverno.

Sertão, Carirí e Agreste,

a paisage vai mudando,

vai logo se transfóimando,

numa linda festa silvestre.

No interiô do Nordeste,

você pode fazê fé,

felicidade agrané,

num ai gimido de dô,

e o meu sertão, seu dotô,

parece um favo de mé.

Tem forró de chão batido,

candinhêro, lampião,

munta muié no salão,

eu fico disinibido.

Um canto iscuro, iscundido,

onde no amô se vai fundo.

Pinta o crima in um sigundo,

e uma muié boa da peste,

faiz meu sertão, no Nordeste,

o mió lugá do mundo...

Bob Motta

NATAL-RN

26.12.2008

Bob Motta
Enviado por Bob Motta em 26/12/2008
Código do texto: T1353368
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