Meu Rio Doce amargurado

Ah, meu Rio Doce!

Ainda doces são as águas que nos cedes,

graciosamente, para matar nossa sede;

os graúdos peixes, habitantes teus, quede?

E o bailar constante das inúmeras redes?

E a tua população ribeirinha que era tanta,

por onde anda?

Olhar-te assim tão raso

d’águas

quão faz meus olhos rasos

de lágrimas!

E me enche de nós a garganta.

De tão mínimo, enxergo-te por dentro;

aqui do perau

tomo o teu vau

com os dedos das mãos.

Na era da globalização

ficaste desimportante,

pois que sem os diamantes

que, outrora, induziam ao movimento

intenso do tráfego das naus,

por que escorriam as riquezas

extraídas a todo custo

das Gerais.

Judiado Rio Doce, dói-me tua fraqueza

espelhada no fosco brilho de luto

destes areais,

dantes, perenamente, afogados

nas tuas águas doces e imensas.

Agora que o teu leito vive assoreado,

à míngua, tuas veias vagarosas andam, à morte, propensas.

Como avolumam em teu leito

pálidas bancas de areias

que estancam tuas parcas veias

já tão poluídas!

Como avolumam em meu peito

salgadas represas de saudade

de tuas águas doces e a intensidade

com que nutrias incontáveis espécies de vida!

Cid Rodrigues Rubelita
Enviado por Cid Rodrigues Rubelita em 11/04/2006
Código do texto: T137361