Carlinhos, engenho de menino

Encontrei-me flutuando

por sobre um mar de cana;

rosas azuis encantavam

o fantástico lugar.

O Eldorado, o paraíso,

cumpria-se no canavial.

Andei por uma estrada branca

que dava para um rio

e o caminho percorrido

ia ficando verde,

camuflando-se na paisagem

e não deixando rastro.

Relampejou! E caiu um toró!

Era a cabeça da cheia

arrastando tudo

que encontrava pela frente:

garranchos, basculhos,

árvores derrubadas,

um boi boiando morto,

e espuma pra danar!

A cheia levou

a ponte de Itabaiana

surgiu-me uma nova ponte

extensa e alta como nunca vi

eu corria por sobre a ponte

de maneira vagarosa

e na outra extremidade

a cidade maravilhosa.

Eu mergulhei

estranho, desolado

verde e profundo;

fiz um grande sacrifício

e quando emergi,

respirei o mundo.

E pipocavam fogos

abundantes de artifício.

Eu acordei!

Estava no Rio de Janeiro.

Ô meu "Padim Ciço"

como é difícil

viver entre paredões

duros e frios edifícios;

ô meu Cristo Redendor hospitaleiro!

Eu lhe tenho apego

sou Carlinhos do Engenho

de Zé Lins do Rego

quero voltar

lá pra Pilar na Paraíba

Tô aqui espremido

sem Tia Galdina

quero sentir o cheiro

do meu chão

Tô aqui moído

sem Velha Totonha

sem carne de sol

sem rubacão

Tô sem rapadura

sem milho cozido

esmagado aqui

na solidão

Tô uma bagaceira

sem Negra Luíza

um sem-cuscuz

um sem-angu, sem-requeijão

...E pipocavam fogos abundantes de artifício.