NEGÓCIO DO CHINA

(Publicada no livro "30 CONTOS DIVERSOS - Causos de nossa gente)

Os ferros de passar roupa

Fabricados antigamente

Tinham peculiaridades

Que alguns ‘inda lembram.

O fio que os ligava

À tomada de energia

Era espécie de rabicho

Que à parte se vendia.

Zepinheiro, meu pai,

Pelos sessenta exercia

O ofício de comércio

Onde de tudo vendia.

À época, o carro chefe

De seu estabelecimento

Eram peças para carros,

Correias e rolamentos.

Eis que um dia apareceu

Lá na loja um errante

Que se auto-intitulava

Bom caixeiro viajante.

Este homem, na verdade,

Grande aproveitador,

A todos passava pra trás

A muita gente enganou.

Acertou com Zepinheiro

Uns pedidos elaborar;

Os produtos enviaria

Para depois se pagar.

Zepinheiro então pediu

Para, assim, revender

Mercadorias do catálogo:

Produtos de A a Z.

O caixeiro então disse: “- Seu Zé,

Tenho um produto bacana:

Isto aqui vai vender

Como na feira banana.

E impôs a Zepinheiro,

Usando todo o seu verbo,

A venda de um milheiro

De chicotes para ferro.

E, chegou a mercadoria

Tudo em caixa de madeira.

Só de chicotes 10 caixas:

Parecia até brincadeira.

Quando viu, Zepinheiro,

De chicotes as centenas,

Pensou: “Ai, meu Deus,

Isso vai me dar problema.”

Decidiu, então, na sua loja

Expor a mercadoria.

Pra todo lugar que se olhava,

Chicotes era o que se via.

A nossa população, à época,

Era pequena cá na cidade.

Pra que tanto chicote elétrico,

Se nem tinha eletricidade?

Zépinheiro matutando

Disse: “Algo hei de fazer.

Vou arranjar uma maneira

De estes chicotes vender.”

Resolveu então contratar

Com garotos biscateiros

Prestação de serviços

Em troca de algum dinheiro.

Mandou os meninos passarem

Várias vezes, o dia inteiro,

E Perguntarem “Tem chicote?”

Pro ‘China’, na Casa do Cruzeiro .

Ao cabo de uma semana

Seu China ficou encucado:

- Se eu tivesse chicote,

Tava vendendo dobrado.

Seu China, vou explicar,

Dono da Casa Cruzeiro,

Era bem relacionado

Com o amigo Pinheiro.

E depois de algum tempo,

Zepinheiro no China passou.

Cumprimentou seu amigo

E em seguida perguntou:

- E aí, amigo China,

Como está o movimento?

Como está sua loja?

Como anda o sortimento?”

-Tá bom – respondeu China –

Tá dando para viver,

Mas tô com dificuldade

De um produto obter.

Olha, amigo Zé,

Tem uma coisa curiosa,

Tá me faltando um produto

Que procuram a toda hora.

Não estou conseguindo

Este produto comprar,

Se o tivesse em estoque

A burrinha eu ia lavar.

- Puxa, amigo China,

Quem sabe eu seja de ajuda.

Me diga, companheiro,

O que é que tanto procuram?

Seu China gratificado

Com a atenção do seu Zé,

Resolve abrir o jogo.

Diz o produto qual é.

Zepinheiro àquela altura

Já tinha armado o bote

E Pensou cá consigo:

- Vou vender os chicotes.

- Puxa vida, companheiro,

Eu tenho chicotes à beça,

Mas não me procuram na loja

Talvez por ser casa de peças.

Se o amigo quiser

Mando agora, então,

Mil chicotes de ferro

Com preço de ocasião.

Seu China sentindo

De Zepinheiro a presteza

Fechou na hora o negócio.

Pagou-lhe ali na mesa.

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Zepinheiro, assim, mandou,

Na verdade com muito gosto,

Os cabos de ferro elétrico

Outrora na loja expostos.

Daquele dia até hoje

Há no ar mistério eterno

No China não mais procuraram

Nenhum chicote pra ferro.

Aroldo Pinheiro
Enviado por Aroldo Pinheiro em 10/06/2006
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