VOZES D’ÁGUA E DA TERRA

Das entranhas desse chão pobre, humilde e bom,

Nasci, em borbulhas, suspiro o néctar da vida.

Calmamente, cresço entre as frondosas árvores,

Tornando-me lentamente num poço de beleza.

Ante a sombra das matas que me cerca

Transbordo alegre, venturas de cunhantãs

Ágil, ultrapasso os obstáculos, sem desanimar

Sobre os rochedos, burilo o caminho que irei trilhar.

Descortino o véu da adolescência, formando rios

Em cascata, acendo o lume de esperança,

Estendendo à vida por onde passo,

Desabrocho em corredeiras, rumo ao mar.

No vale da maturidade, entre barrancos,

Transmudo sonhos felizes ante o mundo desatento.

Envolvente terra que me acolhe, a cantar, doce e tranquila,

Que somente o homem insiste em magoar.

No sobe e desce de minha vivência

Sigo cansada, das mãos que destrói

A golpes rudes que me degrada

Da rota que muitos me fazem mudar.

Límpida, linda me chamam a versar.

Suja, chaguenta ninguém quer me amar.

Sou águas translúcidas a terra devo banhar.

Os homens? Com o tempo, poluída vão me deixar.

Da nascente tenho lembranças, do solo benfazejo

Dos caminhos, tristeza, torturas que me encarcera.

Na foz deságua meus sonhos, antes maldizer a própria sorte,

Seja dia brilhante ou noite escuro, sigo... Constantemente.

Sou riacho, rio, sou mar.

Peregrina... Alivio a aspereza dos corações.

Sou para a terra estéril... Água boa prá sede matar.

Sou vida, viva, vivida...

Nicácio da Silva
Enviado por Nicácio da Silva em 09/12/2009
Código do texto: T1969625
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