LOA AO BEIJO
I
Faço agora a minha LOA
A uma coisa munto boa,
Que os home chama de BÊJO;
Disso a gente num se esquece:
-Amô, sem bêjo, parece
Macarronada sem quêjo...
II
Há bêjo pra todo os lado,
Ofiricido ou robado,
Seje de noite ou de dia;
Mas o bêjo mais cumprido
Já ganhô esse apilido:
-Disintupidô de pia!
III
Bêjo de muié casada
É uma grande trapaiada.
Um assunto munto séro!
Pois, cumo diz o ditado,
Os bêjo que ansim são dado,
Tem chêro de cimitéro!
IV
Os bêjo dado co’ amô,
Se diminói nossa dô,
Faiz duê o coração;
E quando é dado na boca
De uma bunita cabôca,
Tem cem ano de perdão!
V
Os bêjo de muié feia,
Se dexa a boca vermeia,
Num tem chêro nem sabô;
Mas se a muié fô bunita,
Esse bêjo o peito agitaq,
Com seu prefume de frô.
VI
Arguns bêjos se parece
Cum os ferro que se aquece,
Pras rôpa podê passa:
-Pru riba é que a gente liga
Mas, pru baxo, gente amiga,
É queles vai isquentá...
VII
O bêjo dado na face,
Se o pensamento falasse,
Ia bem arto dizê:
-Elas se bêja no rosto
É pruquê, pra seu disgosto,
Já num pode se mordê...
VIII
Mas quando o rosto me bêja
Uma bela sertaneja,
Eu li digo, munto isperto:
-Minha fia, que mau gosto!
Pruquê me bêja no rosto,
Cum a boquinha, tão perto?
IX
O Bêjo da farsidade,
Vergonha da humanidade,
Na Bilbra pode sê visto:
Foi o bêjo traiçoêro
Que JUDAS – só pru dinhêro,
Botô no rosto de Cristo!
X
E disso tiro a lição
Que trago no coração
E ispáio pra quem quisé:
-Home, eu num BÊJO PRU NADA!
E arretirando as casada,
Só bêjo se fô muié!