PAU -DE- ARARA
Pau - de - arara.
Caminhão velho cortando a estrada.
Silêncio de tudo que nunca acaba.
Silêncio de gente viajando sentada.
Do agoro maldito esperando a desgraça.
Pau –de –arara.
Caminhão velho...
muito velho cortando a estrada.
Peça caindo, soltado fumaça.
Janela sem vidro e de vidro quebrado.
Remendo de massa tampando buraco na lata furada...
como gente sem alma ou de alma rasgada,
que leva em silêncio cortado a estrada.
Seca faminta de terra e de gente.
Calor voraz de povo inocente.
Abutre faminto de gente e bicho sem alma.
Demônio assassina cobrindo de morte toda a estrada.
Menino faminto que quebra o silêncio.
Chora no colo pedindo alimento.
Recebe da mãe apenas um grito.
- Cala boca desgraçado maldito!...
Um tapa na cara bem violento!
Outros pequenos famintos,
calam-se num canto encolhidos.
A espera do tapa.
A espera do grito.
A espera da morte...
como acalento.
Pau-de-arara.
Caminhão velho cortando a estrada.
Silêncio de tudo que nunca acaba.
Silêncio de gente de alma rasgada.
Esperança e sonho no fim da jornada.
Silêncio!
Apenas silêncio cortando a estrada.
Silêncio da mãe.
Silêncio do filho.
Silêncio da dor.
Silêncio do grito.
Silêncio do pobre.
Silêncio do rico.
Silêncio de Deus!...
silêncio de Cristo.
Caminhão velho...
muito velho cortando a estada.
Silêncio de tudo...
que nunca acaba!