MEU SERTÃO

A caminhar, com olhar vago, p'ra o poço,

levando as marcas como num rasgo,

vê a Senhora, na paisagem, seu rosto,

as marcas sem igual de alguém aposto.

E entre as vidas postas,

caminhando sem rumo na sua demência,

por meio das encostas que não se vê aparência

nenhuma que lhe dê nova proposta.

E a passear mesmo sem saber

se encontrará o prêmio: a água para beber.

Continua a passos longos o percurso no biénio,

refletindo a dor nos seus assombros.

As linhas do rosto ressecado,

como a figura do nosso solo maltratado,

revelam a necessidade de uma pessoa

e da folha seca que ao vento vôa.

Nesta situação caminhamos,

quando de repente achamos o coração,

triste, sozinho e sem emoção,

por não cair a chuva no chão.

O motivo é a seca que nos seca,

não há mais pingos para o Sertão,

pedimos a ela que à nós apareça,

e aos Céus que de nós não esqueça.

Como a terra está seca,

assim está os celeiros,

o gado não tem mais vida

e já morreu a flor de Margarida.

Como terra seca está o rosto das mulheres,

e nas casas não se usam mais colheres,

as linhas do horizonte não tem mais significado,

pois brilho não traz ao Sertão amado.

Os traços são rachados,

como a lenha pelos machados,

trazem nas cavas as dores,

e levam embora do Sertão suas cores.

Meu Sertão é seco,

Meu Sertão é minha paixão,

Meu Sertão não é um beco,

é do tamanho do coração de mãe.

Meu Sertão é acolhedor,

Meu Sertão é meu amor.

OBSERVAÇÕES. Edinaldo Formiga. São Paulo. 24/09/10.

Edinaldo Formiga
Enviado por Edinaldo Formiga em 24/09/2010
Reeditado em 28/09/2010
Código do texto: T2517992
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