Payada para o pago
(Edegar Soares) 

Quando geme uma guitarra
em busca de algum consolo 
é um payador bem crioulo
numa payada se agarra
da fundamento na farra
o verso do payador
criando rimas de flor
que saltam pela garganta 
é a hora em que o poeta canta
tantas dedilhas de amor

Canta humorismo e cultura
no mesmo estilo campeiro 
é um pajé missioneiro
pras forças de benzedura
todo o mal tem a cura
no momento que ele canta
produz na sua garganta
a chucra benção sonora
o doente sara na hora
até o defunto levanta

Ele é pau pra toda a obra
no palácio ou no galpão
desempenhando a função
com competência de sobra
o seu crânio se desdobra
criando rimas na hora
como quem firma uma espora
num clinudo corcoviando
e um verso chucro escarciando
salta da goela pra fora

O payador é um poeta
sem querer ser literário
ele reza seu rosário
ele traça sua meta
já ateia na cancha reta
conversa ate ficar rouco
tem cousas de santo e louco
em pingo d'água da nó
a verdade é uma só
conhece de tudo um pouco

Quem tem alma se arrepia
e o sentimento se acorda
e o payador se transborda
num dilúvio de poesia
todo seu ser erradia
como alguém que se completa
de leigo vira profeta
na mais campeira oração
rezada pela emoção
que exala o verso do poeta

Sabe a sanga que é profunda
e a casa que tem goteira
o chão que nasce roseira
conhece a terra fecunda
a chuvarada que imunda
percebe ao mudar o clima
cria no verso obra prima
pois conhece toda a lida
na faculdade da vida 
é pos graduado na rima

Neste Rio Grande existe
este poeta cantor
um gaúcho payador
que canta alegre e triste
que tempo a fora persiste
na deslumbrante magia
que se ilumina e irradia
temperado em qualquer clima
textura expressão e rima
com emoção na alma e poesia

A querência se ilumina
e o payador se agiganta
se desprende da garganta
um verso de toda a clina
viva! A América latina
nosso garrão do hemisfério
este crioulo mistério
ninguém desvenda e nem racha
viva ! O torrão da bombacha
terra natal do gaudério

Sou payador de um verso
entre realidade e lenda
só que conhece desvenda
a sutileza de um verso
e o índio que anda disperso
fazendo rimas por graça
e o picumã da fumaça
que entranha no santa fé
como a alma de Sepé
melando a estirpe da raça

E assim... é um payador
que vai sangrando este chão
com versos de inspiração
que mexe dentro da alma
que aos poucos se espalma
como quem faz um pedido
não se façam de esquecido
manter viva a tradição
meu verso é fogo em brasão
cantando meu PAGO QUERIDO.




(Payador palavra de origem espanhola que significa escrever e recitar de improviso versos em décimas perfeitas)

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