Sonho de Vaqueiro
À noite eu tive um sonho
Um sonho nada bonito
Tampouco colorido
Um tanto quanto doído.
Sonhei que eu estava no mato
Folhas secas a cair
Cantoria das cigarras
Mandacaru verde a florir.
Espinhos pra todo lado
Cipó grosso atravessado
Calor muito abafado
Serviço muito apressado.
Foi um sonho demorado
Estava quase acordado
Sonhava sendo um vaqueiro
Pelo gado apaixonado.
Passei logo a aboiar
A correr sempre ligeiro
No meu cavalo montado
Com meu cão de faro ao lado.
Corria dentro da mata
A procurar um touro fujão
Chamado Touro Tufão
A fazer medo em peão.
Ao longe ele surgiu
Mas fez que não me viu
Fiz o pelo sinal
Pra fera eu encarar.
Apertei o meu chapéu
Ajustei bem os estribos
Me sentei todo na sela
E comecei a galopar.
O bicho saiu correndo
Por cima a me olhar
Sempre a me encarar
Como se diz vem me pegar.
De rosto mal humorado
O couro todo rasgado
Do cupim avantajado
Me deixou desanimado.
Avancei muito ligeiro
Nas rédeas a segurar
Sem o cavalo esporar
Partindo para chegar.
Com o laço na mão pra jogar
Querendo ser o primeiro
O fugitivo pegar
E no seu curral amarrar.
O bicho correu de lado
O cavalo muito apressado
O mato era fechado
No espinho fiquei grudado.
Era uma jurema preta
O galho não agüentou
No alto se quebrou
Comigo despencou.
Caí muito ligeiro
O meu laço se enganchou
A queda me derrotou
Pelo meu amo fui perdoado.
O touro sempre a fugir
Na mata a se sumir
Eu sem ânimo para lutar
Fiquei logo a desistir.
Chovia na caatinga
Montei no meu cavalo
O chão estava brejado
O gibão todo molhado.
Do susto eu me acordei
Olhei pra todo lado
A mulher estava dormindo
No piso eu estava deitado.