Meu cabelo tem cheiro de mate
Não me peça para sair dessa terra
Onde nascem os trigais
Onde o sol nos aquece nas manhãs frias
O meu lugar é mais ao norte do sul
O meu campo eu chamo de potreiro
Meu cabelo tem cheiro de mate
E o meu canto
È o meu Rio Grande do Sul
Não me peça para sair dessa terra
Onde os invernos tem geada e neve
Onde somos chamados de gaúchos
E as meninas se vestem de prenda
Nos seus vestidos longos e de fitas seus cabelos
Céu, sol, sul é o meu Rio Grande do Sul
Se eu saísse desta terra
Sei que me sentiria estrangeira
Eu poderia morar em São Paulo ou Minas
Mas dos meu olhos verteria torrente de lágrimas
Não gosto nada, na verdade destesto
Homens machistas demais e que falam asneiras
Algumas piadas grosseiras e falta de boas maneiras
Mas de boas maneiras as mulheres carecem também
Não me peça para sair dessa terra
Onde a injustiça impera e faz política
Onde algumas estradas sem sinais me deixam atordoada nos dias de chuva
Onde vejo tantos acidentes mortais
Sinto medo sim
E não queria ver tantas mortes e carros destroçados
Não queria saber
De crianças jogadas na latas lixos
De termos nesses berços do sul
Tantas mulheres com a alma destroçada
Que se portam e se comportam
Muito diferente dos animais do campo
Não gritam mais pela sua cria
Porque não sabem mais lutar
Perderam as suas armas engolidas pelo capital
Mesmo assim, no dia 20 de setembro
“Sirvam nossas façanhas a toda terra!”
Mas a luta que eu gostaria de lutar hoje
Seria a luta por valores
“Povo que não tem virtude acaba por ser escravo”
Onde estão as “nossas virtudes”?
Onde os “nossos valores”?
Onde a força de um povo que tem na agricultura o seu forte
Que alimenta seus filhos com o fruto da terra
Que ainda sabe fazer um pão de forma?
Que descasca frutas para fazer uma chimia no tacho?
Onde estão estas mulheres que acordam cinco da manhã
Pisam no gelo da estrada
Para tirar o leite da “piazada”
E vender para as indústrias que pagam o preço de nada
Igual ao preço do charque?
Cantam felizes em meio as lágrimas
Enquanto o marido vai para a lavoura
Colocar um veneninho que a multinacional
O “força” a colocar na soja?
Ou a ração cheira de hormônios para o frango explodir em poucos dias?
Mas quem sabe ele tenha que desistir da fabricação dos queijos
Porque para entrar nas “normas” injustas do capital
Ele tenha que gastar mais de 50 mil reais que não tem da onde tirar
Até tem
Se quizer ficar devendo 15 anos e mais 5 de juros
Para se afogar e ficar depressivo preso ao capital
Òh meu farol, óh divindade!
Ponha um pouco de sangue em nossas veias
Para que não nos lembremos quem nos somos
Apenas nas tardes de grenal
Que nossos orgulho não transpareça apenas nessas horas
Em que gritamos
Até a pé nós iremos
Para o que der e vier!
Olhos onde surge o amanhã
Radioso de luz varonil!
E para não dizer que não falei nas flores...
Vivemos na de-mo-cra-cia
Ou numa ditadura que impomos a nós mesmos?
Porque homem ou mulher
Deixamos a nossas armas de lado
Para dizer amém
Para dizer amém
Quem sabe faz a hora
Faz acontecer
Nos campos muita fome e enormes plantações
Enquanto que deixamos o americanismo
Abocanhar o nosso emprego
E mostrar na telinha do ibope
Que vir aqui e tirar o trabalho
De um povo despreparado para a luta
Não é culpa da cultura e da educação
Que deixamos escorrer pelos nossos dedos
Quando o ensino fundamental e médio
Não é o suficiente para nos tornar fortes para a luta diária
Porque não nos faz mais pensar, apenas decorar
Fórmulas sem serventia e mortais?
Mas apesar de tudo isso
Não peça para sair dessa terra
Porque o meu cabelo tem cheiro de mate
Das abelhas eu quero o doce mel
O meu vestido é de prenda
E os meus ideais eu não vendo
Porque o meu grito é do potreiro mesmo
Com a graça e a força do quero-quero!
Mas bah, tchê!
13:18 22-07-2011