LAMENTO DE UM CABOCLO
Autor: José Gomes Paes
28/07/2011
Pego a canoa e me lanço
Remando sem destino aparente
Procuro um lago decente
Que possa abarrotar na empreitada
E me dê fartura de peixe
E de comer a curuminzada
Em casa a coisa está ruim
Não tem nem beiju prá comer
Então disse a mulher: Fica aqui
Que eu vou me embrenhar nesse rio
Só volto quando consegui
Algum peixe para comer
A noite não foi nada bem
Não dormi tive insônia
Ah, Meu Deus quanta vergonha
Ao ver meu filho chorando
De fome sem ter o que comer
É muito triste de ver
Sem nada poder fazer
Com pena disse ao meu filho
Coma farinha com água
Que a barriga tufa e a fome passa
Cedo vou dar um jeito
Vou pedir ajuda ao prefeito
Para acabar com essa desgraça
De nada adiantou
Ele nem me deu atenção
Se quiser uma ajuda
Fale com o Bastião
Que é o meu secretario
Que foi logo me dando resposta
Que não tinha nem prá comer
Volta daqui a 30 dias
O que me fez mais entristecer
Essa gente eu já conheço
Não ligam prá gente agora
Mas na época da eleição
Botam as barbas de fora
Ficam pedindo voto
A troca de uma esmola
Não fica triste mulher
Que eu vou dar um jeito nisso
Daqui a pouco temos comida em casa
Assumo este compromisso
O que mais me consome
É não ter de onde tirar
E ver meu filho passando fome
Ainda me restam os amigos
Que na hora do sufoco
Sempre me ajudaram
De tudo me dando um pouco
Um dia vou lhes pagar
Que disposição não me falta
Coragem e força prá trabalhar
O que me entristece muito
Ver muita gente passando fome, lamento.
Não ter emprego prá trabalhar
De onde possa tirar o seu sustento
E o prefeito e os seus enriquecendo
A custa das pessoas sofridas
Que na dificuldade, na doença não tem de onde tirar
Por muitas vezes pagando com a vida
Quero aqui fazer uma alerta
É que muitos não sabem ou desconhecem
Que o dinheiro das Prefeituras é principalmente
Ajudar as pessoas carentes
E mandatários ficam se apropriando
De algo que não lhes pertence
E isso é um grande pecado
Que todos têm que ter em mente.
FIM