Minha Lua

A lua me acordou duas horas da madrugada

Transpassando a vidraça da janela em silêncio

Dia onze de março clareando meu repouso

Com seus raios límpidos e mensageiros

Trazendo notícias da amada e de Jorge

Galopando em seus cavalos árabes

Mim lembrou dos tempos das cruzadas

E do sangue dos soldados de Cristo

Que fecundavam os campos de batalha

A lua sorriu de suas amigas bruxas

Cremadas na lenha da maldita inquisição

Falou de Valkíria sua irmã aqui na terra

Fada madrinha que alimenta as estrelas

Com o mais puro dos azeites do universo

A lua quase saindo beijou o meu rosto quente

Disse me para semear a semente do algodão

Para construir asas que não são de Ícaro

Pousar sobre os campos do sertão

Onde os pardais e os periquitos

Se alimentam dos insetos de Kafka

E da farinha de Câmara Cascudo

A lua foi embora com certeza de regressar

Deixou seu último recado:

Para eu não deixar de escutar

A voz do universo e as “cantigas de estradar”

Sua última palavra: “Eu sou a lua que ilumina

o sertão;talvez voçês não saibam,

além de mãe de Jorge eu sou avó de Elomar

e bisavó do Rio Gavião.

Urias Arifa
Enviado por Urias Arifa em 20/08/2011
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