Nego Dé

(Para minha filha Tailane Morena, baiana nascida em Ilhéus)

E lá vinha Nego Dé.

Deus de ébano.

Riso de marfim.

Filho de Oxóssi.

Dono de ginga sem fim...

Corpo que é quase um rito.

Bailarino do infinito.

Jogador de capoeira.

Quando dançava descalço,

na dureza do asfalto

e parecia voar...

Tudo o mais se aquietava.

Tristeza se dissipava.

Espetáculo sem par!

Restava os olhos vidrados

da multidão encantada.

Das gentes de todo o mundo

que vinham pra admirar,

O místico Nego Dé...

Pássaro preto e alado.

Espécie rara de homem

Doutor na arte de amar...

Serpenteando no sol,

suava cegando a gente

num brilho quase indecente!

Saltava pra acompanhar

a batida do atabaque.

África em pleno ar!

Mágico Nego Dé...

Metafísica e verdade.

Experiência divina.

Espécie nova de fé.

Êxtase mais que sagrado.

Profano pastor baiano.

Redenção dos meus pecados.

Entrego minh’alma a Dé...

Nessa aliança de versos,

palavras eternizadas.

Amor que une a poesia,

à dança de todo o dia,

no compasso da Bahia –

regência do velho Bonfim...

Lá onde impera a arte.

Mares que não se acabam,

palco de todos os Santos.

Magia a não ter mais fim...

Templo de Nego Dé.

Imagem que mora em mim.

Goimar Dantas

Santa Rita do Sapucaí,

Sul de Minas Gerais

Em 25/12/2006,

às 13h37.

Goimar Dantas
Enviado por Goimar Dantas em 15/02/2007
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