NA BOCA DA ONÇA
NA BOCA DA ONÇA
( Elizabeth Fonseca)
Um sonho... Mística sensação de verdade.
O paraíso a minha frente fascinava.
A trilha estava aberta, fresca e semi-úmida.
Sombras e frestas de sol, acobertavam-me.
Túnel verde e acolhedor... Felicidade única.
Meus pés tinham sede em caminhar livremente.
O ponto final, mistério!... Boca da Onça!
Os pássaros exibiam lindos gorjeios,
Os insetos palpitavam sonora orquestra
E o pulsar da floresta me fazia criança.
A figueira agarrada ao humilde buriti,
Na busca da seiva, as garras fincavam forte,
Permanecendo em luta sua sobrevivência, eu vi.
A maria-barriguda, esbelta e poderosa,
Toda coposa buscava o sol a toda sorte.
Abria-se um véu de cascada cantando chuá,
moldando as pedras de espuma...Branco sem fim,
Era um Fantasma, abrindo os braços sem parar.
Nas vertentes, exibia-se misteriosa,
Numa ressonância indelével a embalar.
Exuberância, fragrância e exaurir.
A mata fecunda mostrava-se serena,
quando de repente, do alto via-se cair
Uma Anta vestida de noiva, que num zape,
Em queda estouvada, vai na mata a fugir.
De pedra por pedra, de degrau por degrau,
Alcança-se a mais graciosa Jabuti.
Acanhada, dormitava toda dengosa
Com o batismo da samambaia e a da juriti,
Na solidão, rolava e rolava chorosa.
Mais surpresas e belezas se despontam.
No calor da espera, pude refrescar-me,
E tranqüila banhar-me no Poço da Lontra.
Voltar à trilha como feliz andarilha,
E descansar-me numa clareira pronta.
Haja adrenalina para escalar montanha!
Surge um trapézio...É no Buraco do Macaco
Que descendo das grimpas, foge, se esconde!
Sorrateiro, dentro da mata... Galho em galho
Onde o medo visivelmente se responde.
Retumba o som da cascata... Era enorme!...
Soltava fumaça pelas ventas, bafejava o céu.
Feroz descia do abismo toda disforme.
Que hipnose!...E diante à Boca da Onça,
Cedendo a sua ira, entregue e gelada entrei!
Fascinada banhei-me em sua saliva doce.
Oh! Céus!... A divindade desceu nessa Terra
Se há abismos, que o homem possa nele cair,
Não são as crateras da natureza, as serras...
Mas sim, os buracos negros de sua pobre alma,
Que ele mesmo consegue, no ego, produzir.
• Todas as palavras em negrito, referem-se às cachoeiras da fazenda “Boca da Onça” – Bodoquena – MS
- A cachoeira Boca da Onça, é a maior do Estado, mede 156m de altura, tem o formato dos olhos e da boca de uma onça.