AS VIDAS DO RIO

O Rio tem três vidas

Muitas veredas

Tantas avenidas

Valas alamedas

Rio requebra nas vielas

Carnavalha nas praias

Encarioqueia seus visitantes

Tem olhos de revanche

Para todos que não conhece

Cristo na distancia

Santaclareia seus trilhos

Hoje sem rumo

Sem prumo

Sem paralelismo

Não chegam a lugar algum

Tragado pela bruma está lá o Cristo

Tão afastado no alto

Dos Arcos da Lapa

Com olhos laparoscópicos

Fixos, petrificados

Já não enxerga todos

Perto de alguns

De costas p'ra tantos outros

Na crista das ondas copacabaneadas

O Rio tem uma vida Atlântica

Avenida e perfume de grife

De olhares azuis balcânicos

Línguas eslavas estranhas

Praias e paraísos postais

Entranhas de túneis abertos

Papéis indefinidos

Pouco transparentes

Com a maioria dos parentes

Maltrapilhos ou bem vestidos

Todos reticentes

O Rio Olha pro Oriente

Outra vida é a das viúvas

Que não veem outra fruta

Mães de passado remoto

Mães das putas

Já não saem mais nas fotos

Caras de maracujá

Abandonadas nos becos

Enclausuradas nas sombras

Vivendo de sobras galetos

De tantos filhos distantes

Nos resta o Rio suburbano

Quase subumano

Riscado de linhas vermelhas

Atenção amarelas

Tiros dos donos das ruas

Dos donos das almas

Cidades onde Deus jamais chegou

Realengo engenho real

Geléia real

Cascadura p'ra poder viver