Minas já foi mar
Assim como o Sertão,
Minas já foi mar
Antes das mulas carregadas dos tropeiros,
das Igrejas Barrocas,
do contraste entre pobreza e riqueza,
ou da intimidade entre doença e miséria
Minas, pedacinho de oceano
Foste quadradas águas perdidas
Sem fim, nem começo
Antes dos jantares requintados,
regados a conchavos políticos brindados
Num tempo sem mãos calejadas,
sem ouro verde dominando paisagem
Antes da bandeira escrita em latim,
antes do horizonte belo,
antes dos traços da cabocla
ou clubes, esquinas e serenatas
Minas, labirinto de corais,
nos seus múltiplos cantos e sotaques
Antes da insana busca pelo ouro,
dos Emboabas, do Café com Leite,
do frango caipira ou do Diabo de Guimarães
Antes da viola, dos bandoleiros,
das beatas, putas, mexeriqueiras e neo-coronéis
Minas estava escondida, submersa
Antes dos corpos fatigados na senzala,
do apito do trem, do cheiro de pão de queijo,
da publicidade enganosa do governo,
ou da falsa liberdade de expressão
Cabreiro mar mineiro,
esquecido no suspiro do marulho,
já conspirava poemas eternizados