RIO CONJUGAL 2

I

rio eu

eu rio

rio eu rio

difícil não rir

morando

entre dois rios

um por um

um por si

dois por todos

se um pudesse

nenhum seria

só para depois

sobrarem dois

de dois um

eu sou depois

II

o mearim bebe muito rio

e assim de porre

corre

cambaleia

e tonto

tomba

na baía de são marcos

o rio ri

do mar

do marcos

que na baía

vira são

o mearim chega

toca o mar

sacode o sal

beatifica-o a baía

tudo fica assim

mearinhado

quando são mearim

chega

à baía de sal marcos

não ocorre o mesmo

ao corda

o mearim

versado em águas

por mais versos que faça

sempre lhe falta uma valsa

não vence

a teimosia do corda

ele cutuca as árvores

em suas partes pudentes

levanta a saia das raízes

e toca-lhe a fruta ainda no sono

a seus pés

bambus se envergam

em respeito? – não

eles riem

o rio faz cócegas a seus pés

galhas gaiatas

gargalham

da vaia das sapucaias

jubas que as cujubas

côncavas

cavam nas correntezas

locas loucas

rebojos com nojo

comboio de bóias

nas ondas do rio

indo

e rindo

como se tudo

fosse infindo

o rio assim assiste

sem mácula

ao espetáculo

do ciclo humano

III

o mearim quando aqui chega

agarra-se aos peixes

às canelas da ponte

não quer passar

não tem saudades do mar

mas para o bem do polvo

e a felicidade geral do cação

viola o dia do fisgo

(o mearim de após

leva-nos a nós

atado ao corda)

o mearim não deságua

na baía de são marcos

não deságua no mar

na verdade o mearim

não deságua

vira carne e osso

e fica andando na barra

brincando de corda

vivendo de farra

Kissyan Castro
Enviado por Kissyan Castro em 18/06/2014
Código do texto: T4849545
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