CABOCLO VIAJADO

Por traiz do daquele silencio.

Tem uma frecha certera.

Correndo muito ligera.

Pra meu coração arcançá.

E pra não brigá nesta hora.

Saiba qui meu coração chora.

Vendo tamanha destreza.

Pro arvo ansim acerta.

Este silêncio qui fala.

Pra esta alma qui cala.

Tanta palavra mar dita.

Inscrita no naquele oiár.

Pra gente si separá.

Sabe seu moço.

Neste mundo dí mardade.

Já tive a felicidade.

Tanto posso lhe contá.

Fio único de fazendero.

Já corrí o mundo intero.

Pra muito dinheiro gastá.

E uma moça da cidade.

Cheirando à felicidade.

Em otro porto me feiz atraca.

Esqueci minhas origens.

Minha terra, meu torrão.

E pra outras bandas fui morá.

Não entendia a tar linguage.

Só fartou mesmo comer serrage.

Por eu num sabe falá.

No inverno vi gelo ralado.

Caindo como o orvaio moiado.

Dexando branquinho o chão.

Aqui andava a cavalo.

Lá, só de carro importado.

Helicóptero ou avião.

Mais esta muié facera.

Me usava a noite intera.

Pra suas fantasias de amor.

Eu um caipira apaixonado.

Sendo muito ludibriado.

Com o coração apertado.

Porque dela pensei gostá.

Di frente preste remanso.

Lanço fora esta magoa agora.

Esperando pela flechada.

Porque sei num vo güenta.

eneaga
Enviado por eneaga em 26/09/2005
Código do texto: T53868