Lamento das Gerais

As serras da minha terra,

A um só tempo, protetoras e opressivas.

O que haverá além?

Berço que acalenta e aprisiona,

Como uma grande muralha da China.

A ultima defesa contra ataque

Dos cavaleiros dos metais,

E suas tropas medievais,

Na arena do grande sertão.

Serras que protegem em lânguido ninho,

Espelhos de reflexos profundos e distorcidos.

Túmulos profanados.

Escola de mestres vencidos.

Templo de vestais corrompidas.

Um acalanto puro transformado

Em grito angustiado de capital promiscuo.

Eis o que restou daquela promessa

Guardada a sete chaves,

No seio da terra, ao reflexo das águas.

Um paraíso queimado

Na fogueira impiedosa da ambição

E da vaidade

Filha bastarda do progresso vendido.

No culto ao bezerro de ouro,

Na destruição das matas,

Na poluição das águas,

Assassinato em massa

Dos valores e tesouros

Que a mãe-natureza

Nos legou de graça.

Serra rasgada, terra ferida,

Vertendo lagrimas de sangue.

Um caudal de lama avermelhada,

Saindo de suas entranhas dilaceradas,

Com um grito de puro desespero.

O que restou a nós, poetas da terra,

Alem de um triste lamento?

Se as engrenagens do progresso

Não podem parar,

Se sua bocarra enorme não pode se calar?

Talvez o silencio dos rendidos

E a caneta revolucionaria dos aflitos.

João Drummond
Enviado por João Drummond em 11/02/2020
Código do texto: T6863673
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