Entre as Veredas

Entre as veredas

A vida corre solta

A céu aberto,

Como um rio que

Corta as entranhas das Minas.

Meu cavalo em trote pesado,

Carregando velhas memórias,

Tralhas de um passado turvo,

Como são turvas as águas

De Teobaldo e Diadorim.

Pensamentos cortam

Os ares como balas de “Tatarana”

Numa busca angustiada

Pelo tal destino.

Triste destino

O de cavalgar sobre

Um cavalo alado,

Alazão de pêlo reluzente,

Pelas trilhas de fogo ateado,

Sob o olhar flamejante

De um sol algoz.

E eu um fantasma andarilho,

Com esta missão

Sem brilho, a de levar

Aos povos das veredas,

Que diante da insana

Saga humana, o sertão

Vai se acabar.

E no fim de tarde

Um frágil mugido

Da garganta de um

Boi sedento,

Reclama a chuva que não veio.

Mas veio o sol abrasador,

Veio a queimada, veio

A lamina cortante

De um homem louco,

Que a troco de lucro fácil

Destrói o sonho sertanejo.

Uma lua em cativeiro chora,

E se um dia o poeta proclamou

Em lamento, que o mar

Seria o sertão do amanhã,

E que o coração suspeitava

Que o sertão em mar podia

Se tornar,

Pelo trotar de meu cavalo alado

Entre as trilhas de um cerrado

Em fogo, este velho sertanejo

Errante, também em choroso canto,

Alerta que o sertão

Em deserto, enfim pode se transformar.

João Drummond
Enviado por João Drummond em 11/02/2020
Código do texto: T6863675
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