Domingueira
DOMINGUEIRA
Abra a janela e sinta o domingo entrar
O dia lá fora convida para um banho de sol
As pessoas estão vestidas de domingo
E caminham sem pressa
Parques e jardins estão em estado de flores
As ruas mastigam o silêncio mormente dos domingos
Quando eu era menino vestia-me de domingo
Para ir ao futebol ao cinema à missa
Domingo dominga dentro da gente
Abre seu leque em guirlandas de luares e poentes
Depois descamba em azul
MENINO DE FAZENDA
Não fui um menino de fazenda como o Drummond
A cidade era a fazenda a seara de sonhos que ganhei em vida
Longe dos meus olhos o mar murmurava uma estranha canção
Mas meu coração inventava outros mares outra canção
Nunca fui menino de fazenda
Um fazendeiro do ar como o Drummond
No entanto minha infância era povoada
De bois de cavalos de cheiro de erva-cidreira
CANOA QUEBRADA
Canoa velha escorada num pau
É como amor que se acabou
Canoa velha esquecida numa praia
É como saudade que se espalha
Nas velas abertas ao vento perdidas
Partidas no tempo
Lembrança das àguas
Sentida saudade
Da velha canoa
Sem poder navegar navegar navegar