(H)Afins

Os lábios dos dedos engolindo palavras

os gestos das falas que ardiam labaredas

sorvendo absinto

como dragões meteoros desenhados na pele das costas

das mãos

As línguas se tocam numa guerra santa

por vocação

os olhares inquisidores dos teus sorrisos

alimentam-se dos gemidos fartos e

expressões de gozo contido prestes a florescer

Besta fera a invadir pensamentos

revelar desejos do teus abismos

- sorrindo calmaria nas tensões -

como se o tempo não esvaísse

dos ponteiros perplexos imantados no relógio de parede dos teus labirintos... segue tateando rastros dos teus infindos por quês

E a madrugada se esvai pelas arestas todas e recomeça

entre tuas roupas insubordinadas caídas ao chão

tuas pernas semi nuas

semi abertas

criam sinuosas vertentes - rastros abertos a dentes e saliva

Teus dedos arqueados contraindo a trama dos fios

dos cabelos aos lençóis.

e teus olhos em êxtase tentam em vão se refazer

mas as lembranças na retina - do que não era permitido até ontem

estão agora estampadas nos versos

Mas o tempo é o agora e o aroma transmuta o ambiente

a calmaria fica por conta dos barcos lá fora

não aqui, entre mim e você

onde as velas eriçam-se sôfregas ao toque do hálito quente

na vingança consentida aos raios de sol

Rompem-se em suicídio ruidoso as cortinas voláteis

ante olhares e toques

a voz rouca que deflora

as pontas dos dedos nos lábios entreabertos

o olfato aguçado se expande e eles se absorvem noutras dimensões

Alquimia diluindo certezas entre porções inexatas de razão e querência

digitais na língua - hóstias da comunhão - sacia

almas em febre, - solo de cellos -

desaguando beijos

desbravando luas

atentando espelhos - estrelas

invocando ruas.

Jaqueline Serávia
Enviado por Jaqueline Serávia em 22/03/2012
Reeditado em 22/03/2012
Código do texto: T3569837
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