A DEUSA GAIVOTA & MAIS

A DEUSA GAIVOTA I (22 abr 12)

Anfitrite reclinou-se nessa praia:

Usa um biquíni em nuance de salmão,

Bem exígua essa rósea proteção

Que sobre curvas esguias lhe recaia.

Anfitrite se recobre com uma saia

De grãos de areia, em contrastação

Com a pele que as ondas banharão,

Quando voltar a seu leito de cambraia.

E embora exponha assim quase nudez

Ela se porta com total dignidade,

Que abordar só se pode com respeito.

De olhar austero em plena madurez,

É o puro exemplo da feminilidade

A que mulher e deusa tem direito...

A DEUSA GAIVOTA II

O seu olhar é de plena compreensão,

Com simpatia e plena advertência:

Sou bela apenas em minha complacência,

De ti mereço a total adoração...

Não sou objeto de tua concupiscência;

Meus seios são perfeitos, porque são

Destinados a produzir a lactação,

Não alvo impuro de tua malevolência.

Eu te mostro as clavículas e o umbigo

E minha curva suave do abdômen,

Porém é limpa minha sexualidade

E o formato de meus lábios traz castigo

Para a ousadia e impudor do homem

Que se entregar a edípica ansiedade.

A DEUSA GAIVOTA III

Conserva para ti este modelo

De como deve ser a perfeição

De um corpo de mulher em floração,

Mas não terás de mim qualquer desvelo.

Tão só imponho o teu ideal do belo,

E em mim desboto qualquer comparação;

Conservo de Posêidon a proteção,

Sou deusa desse mar. Bem podes vê-lo

E nele podes até mesmo te banhar,

Podes também banhar-te em meu olhar,

Mas não te atrevas a penetrar profundo

E nem me toques o âmbar dos quadris,

Com dedos ímpios de pensamentos vis,

Senão te levarei para o meu mundo...

A DEUSA GAIVOTA IV

Meu ventre é meu para ser fecundado,

Nele fecundo as águas deste oceano,

Mais potente este sêmen que o do humano

Que me deseje em olhar apressurado.

As criaturas do mar tenho gerado

E as renovo ao perpassar de cada ano.

Eu sou a mãe das águas e o profano

Deve curvar-se à rapidez do fado.

Mas olha bem!... E depois, te desaponta

Com essas fêmeas tão somente humanas,

Eivadas de transientes perfeições!...

Em mim é a Natureza que desponta:

Eu sou gaivota e se hoje me reclamas,

Alçarei voo a debicar tuas ilusões!...

awonawiIona I (23 abr 12)

enquanto espero

eu faço versos

tempos conversos

em véu sincero

transformo em gesso

o mau momento,

mas me contento

no bem espesso

refaço em vidro

a dor dos pés

retorno ao invés

do álcool anidro

se é meu fado

viver em filas

em tais esquilas

sem ter pecado

se é meu destino

tal desconsolo

qual pobre tolo

badalo o sino

awonawilona II

já vi bastante

até o presente

fui raramente

desperdiçante

bem sei que o tempo

foi meu amigo

corri perigo

no contratempo

mas fiz render

esses meus dias

luzes tardias

quero viver

em cada endeixa

novo pretexto

guardo no texto

razão de queixa

maior calor

enquanto espero

não mais que um mero

sofrer de amor

awonawilona III

nem sei ao certo

quanto sofri

quanto menti

no meu deserto

que cada olhar

se faz estrela

meu sangue gela

seu palpitar

mas só um instante

é que me ofusco

pois logo busco

ritual constante

acho um cartão

rabisco um verso

e já converso

meu coração

lança ao redor

nova pesquisa

e a barba alisa

sem mais candor

awonawiIona IV

apenas quero

sem zombaria

a estrela guia

enquanto espero

que a vida seja

de aurora morna

sempre retorna

e o novo enseja

e quem espera

amor eterno

verão e inverno

tolice gera

não tenho medo

de confessar

meu palpitar

constante cedo

e só desejo

ter novo alvo

no verso salvo

tudo o que vejo

PANDAS EM PÂNDEGA I (24 abr 12)

Quinze filhotes se encolhem no berçário,

embolados num montinho branco e preto;

são mantidos por chineses em secreto

local, de algum turista atrabiliário;

pois está bem que lhes traga o numerário,

mas só lhes deixam demonstrar afeto

em área cujo acesso é mais discreto:

tais filhotes só verá o veterinário...

E ainda que os chineses vendam tudo

e mais que tudo exportem mais chineses

para o mundo de olhos oblíquos ocupar,

que me vendam um panda não me iludo:

são apenas mostrados aos fregueses,

sem a ninguém ceder um só exemplar...

PANDAS EM PÂNDEGA II

Na verdade, já estiveram quase extintos:

faziam deles churrasco os camponeses;

taxidermistas vendiam a seus fregueses,

mumificados, os olhos seus, famintos...

Ou de seu couro fabricavam cintos,

as cabeças em troféus feitas às vezes;

cada processo levava muitos meses,

olhos trocados por vidrilhos tintos...

Até que apareceram nos museus

da América do Norte e assim chamaram

a atenção dos biólogos curiosos...

Quando partiram em sua busca os europeus,

só no norte da China os encontraram:

pequenas tribos de olhares temerosos...

PANDAS EM PÂNDEGA III

E foi este interesse dos cientistas

que abriu seus olhos e mudou-lhes o costume;

o seu controle a governança assume:

valem dinheiro, se mostrados aos turistas.

Sua preservação é uma das conquistas

do governo socialista, se presume...

Nos pensamentos de Mao lhes veio a lume

uma injunção em apoio destas vistas...

E existem hoje muito mais ursinhos

a comer os seus bambus, vegetarianos,

sem sequer arranhar seus tratadores,

criados em berçário, bem mansinhos....

Se livres fossem, sofreriam logo danos,

sendo chineses seus maiores predadores!...

DENTE-DE-LEÃO I – 8 MAR 12

Quando a gente depara com essas plumas,

as mais perfeitas de toda a natureza,

universos de completa singeleza,

que cada esquina produz em simples rumas,

essas estrelas que com um sopro esfumas

e se espalham em mil esporos de altiveza,

igual que feromônio, em sutileza,

igual que o sal de todas as espumas,

igual que o beijo espalha seu perfume

mesmo àqueles que jamais foram beijados;

igual se colam sonhos encantados

em nossa mente, com doçura ou azedume

que outros sonharam ao luzir do sol poente,

mas que só foram sonhos para a gente...

DENTE-DE-LEÃO II

E ela se assenta num toco para lenha,

usando um short escasso e um sutiãzinho,

pele de cobra falsa e sem carinho;

gotas de sol na pele fazem senha...

Uma aliança afirma que já tenha

marido que constante se avizinha

e não se importa que vejam sua rainha

enquanto para ele apenas venha...

E realmente, nem parece carne e osso

essa mulher de mármore rosado:

Praxíteles a teria eternizado...

Trazendo gargantilha no pescoço,

os lábios contraídos, em encarnado

botão que tem a pluma ameaçado...

DENTE-DE-LEÃO III

Caso ela sopre esse dente-de-leão,

a pluma se esfará em mil sombrinhas

que o vento há levar, bem pequeninhas

ou, quem sabe, virá inteira até minha mão?

Bem que eu queria me assoprasse então

essa pluma como um beijo em doces vinhas

e que pudesse guardar dentre estas linhas

o mesmo beijo-pluma de emoção...

Mas essa pluma permanece eterna

e nunca irá gerar flores douradas,

como eterna se conserva a flor que é ela...

Em lenha grossa ela apoia a pele terna,

nessa rosura nívea de intocadas

ilusões... mas para os olhos sempre bela...

DENTE-DE-LEÃO IV

Quando criança, minha mãe me deu

(sempre guardara as suas fantasias...)

todas as flores de ouro que nas vias

se encontravam; mas entre fendas se perdeu

essa ilusão, junto à infância que morreu;

anos mais tarde, em meus passados dias,

encontrei a informação que as folhas frias,

embora amargas, serviriam para o meu

vigor manter, fontes de puras vitaminas;

por vários anos as comi, como saladas...

Mas a lenha em que se encosta já queimou,

as flores de ouro tiveram outra sina,

as folhas já esqueci, abandonadas

e essa mulher nunca vi, nem me beijou.

VENTRÍCULOS SURDOS I – 9 MAR 12

Trago em meus olhos a luz da hipocrisia

em que vivi, nos tempos de criança,

até o ponto que a inventiva alcança,

na sociedade pudica em que vivia...

Casar bem cedo as meninas se fazia,

antes que o sexo exigisse sua alabança

e trouxesse vergonha estranha lança

sobre o escudo da família que sofria...

Embora muitas professassem fidelidade,

naquele tempo seguiam tradição

de em Porto Alegre ir fazer amor...

Enquanto os olhos fechava a sociedade,

salvo se houvesse a prova da traição,

sem ser oculta por aborto em mau odor.

VENTRÍCULOS SURDOS II

Os corações não batiam diferente

naquele tempo que na época presente;

eram os mesmos os procedimentos,

somente ocultos muitos movimentos.

Havia amantes para todos os momentos,

para os homens em diversos julgamentos;

era uma prova de virilidade assente,

a que todo o grupo social mesmo consente

e até na realidade se esperava,

embora a esposa pretendesse não saber

e a família se esforçasse no ocultar;

para as meninas, então, nem se contava,

que a informação podia mal fazer,

muito pior que um silêncio tumular...

VENTRÍCULOS SURDOS III

O sangue então por aurículas já entrava,

mas se negava que saísse nos ventrículos...

Faziam sexor as pobres em cubículos,

enquanto a rica que o queria, viajava...

E o surdo coração já não pulsava,

a sociedade envenenada em conventículos,

da boca para fora tais versículos;

só ao padre tais pecados se contava...

E resolvia-se tudo em penitência,

ave-marias e glórias, padre-nossos

ou quem podia, uma qualquer contribuição...

E havia casos de até mais indecência,

em que os padres as beijavam nos pescoços:

bênção sagrada a desculpar tão feia ação!

VENTRÍCULOS SURDOS IV

Hoje as pessoas também fazem vista grossa:

a hipocrisia se resolve em mil suspiros;

saem as jovens à rua, nos seus giros

e a mulher velha agarra o homem que possa.

Algumas anunciam, em plena troça,

em sítios pornográficos seus reviros;

mostram-se nuas, anunciando seus respiros,

ninguém se finge boneca ser de louça...

E por que o deveriam, afinal?

Tantas morreram por crime passional,

por o marido traírem ocultamente...

Porém mulheres sempre são cruéis

e aquelas que ainda juram ser fiéis,

condenam as demais, pudicamente...

DITADOR

Ao se abrir computador, cada vez mais,

surgem problemas de todo inesperados:

programas são sem ordem encerrados,

outros se abrem sem se chamar jamais.

Bem longe dos teclados naturais

em datilografia utilizados...

Os erros facilmente eram achados

sem precisar conhecimentos anormais.

Mas isso em que agora nos movemos

é uma entidade soturna e demoníaca,

que nos governa sem que seja governada

e até nos determina o que fazemos,

em horoscópica atuação zodíaca,

onipotente, que nos reduz a nada!...

ECONOMIA I

Morreu a mulher do turco e no jornal

foi por um anúncio. Pra ser baratinho,

"Samira morreu", escreveu num papelzinho,

que entregou com o ar mais natural...

"Não vai botar mais nada?" falou o rapazinho

encarregado dessa seção fatal,

que chamam de obituário... "Olhe, afinal,

existem muitas Samiras..." "Meu amiguinho,

Salim quer pagar pouco..." "Dez reais

é o preço mínimo, mas pode colocar

até cinco palavras por verbete..."

Falou o turco: "Então, Salim põe mais,

pra aproveitar o preço... Vai botar:

"Samira morreu, vendo Monza 87!"

ECONOMIA II

Em seu leito de morte, a casa cheia,

cuidado apenas pelo seu netinho,

agonizava um infeliz velhinho,

bem no final de sua vida a teia...

Mas então, um tremor lhe corre a veia:

sentira o cheiro que entrava de mansinho...

E então, fez um pedido bem baixinho,

que seu netinho lhe trouxesse meia

fatia daquela cuca deliciosa

que a vovó estava preparando,

melhor do que as compradas num empório...

Voltou o menino, com cara desgostosa:

"A vovó disse que é pra eu ir esperando,

que vai servir essa cuca em seu velório..."

CUPINS DE VENTO I

Andam falando que existia uma camada

feita de ozônio e que não existe mais,

na nossa zona, que esquenta até demais

o Sol agora, já que nem de madrugada

a gente se refresca, sem mais nada,

só com ar condicionado, ventilador, que mais?

Mas essa gente se esquece de jamais

lembrar cupins de vento em revoada...

Durante o inverno, ao frio não estão "afins"

e o vento sopra gélido e fininho:

até nos ossos consegue penetrar...

Mas no verão, renascem os cupins:

o vento sopra todo furadinho!...

Quase não chega pra se refrescar!...

CUPINS DE VENTO II

E quando fica muito quente, a seca,

evaporando em tudo que é lugar

a água dos rios, lagoas e do mar,

leva consigo, ao nos deixar careca

a terra inteira, porque tudo resseca,

até as ovas de peixe para o ar!...

Lá elas ficam, nas nuvens a flutuar,

até que muda o tempo e nos defeca

uma tremenda chuva de verão:

dor de barriga do céu, como se sabe!...

É que as ovas descascaram e cresceram,

durante todo o tempo em que lá estão:

seu peso sobre as nuvens já não cabe,

por isso os peixes sobre nós choveram!...

CUPINS DE VENTO III

Eu sei que é proibido, mas um dia,

fui pescar caturritas escondido,

durante a piracema. Igual bandido,

fui com anzol e rede, em fantasia

de na cozinha encher uma bacia

com vinte e tantas caturritas, no sentido

de fazer passarinhada... É bem sabido,

depois de depená-las sobre a pia!...

Elas subiam pelo rio depressa

e a corrente me empurrava em desfavor:

da minha rede nenhuma se aproxima!

A força da torrente nunca cessa...

Mas fui esperto: eu reverti o motor

e fiz o rio correr coxilha acima!...

CUPINS DE VENTO IV

Mas enquanto eu depenava as caturritas,

naturalmente, após partir o pescoço,

já preparado para um bom almoço,

guardando as penas, que são tão bonitas

para trançar um chapéu, cheio de fitas,

que levaria, mais cheio de alvoroço,

pra minha china, presente bem de grosso,

uma me fez uns olhos de bolitas...

E me pediu: "Misericórdia, senhor, tenha piedade!

Eu sei lavar, passar, varrer e cozinhar

e, se o senhor esperar até eu crescer,

até sua namorada eu posso ser..."

Fiquei com pena do bicho, de verdade

e fui buscar uma caixinha pra guardar...

CUPINS DE VENTO V

E a caturrita se criou comigo...

Dava gosto de ver! Com o rabinho

varria o chão e espanava direitinho

e com o bico retirava o pó antigo

que se juntava por qualquer cantinho...

Fazia a comida e até geleia de figo:

era tão boa que nem contar consigo!

Me fazia cafuné e mais carinho...

Depois, ela cresceu, ficou bonita,

fez uma plástica, pra tirar o bico,

usava calça jeans e salto alto!...

Até no vídeo ela ia buscar fita...

Mas de braço com ela, eu pago mico:

é mulher verde andando pelo asfalto!...

CUPINS DE VENTO VI

Passou o tempo e a gente se ajeitou:

sem o bico, ela beijava muito bem...

a penugem verde me aquecia também:

nenhuma mulher igual que ela me amou...

Só a voz esganiçada não mudou...

A comida era excelente, com um porém:

nunca fez uma omelete pra ninguém,

e nem sequer um ovo me fritou...

Mas um dia, notei a diferença,

depois que nos casemo no cartório:

vi ela sentada no cantinho de um armário!

Tinha feito um ninhozinho e estava tensa...

Será que demudou após nosso casório?

Abracei com carinho e levei ao veterinário...

CUPINS DE VENTO VII

Chegamos lá e nem sei porque essa gente

nos olhava com um jeito tão estranho:

decerto caturrita do tamanho

da Kátia Rita não se via frequente!

O veterinário examinou com lente

as partes dela... Tinha tomado banho

antes de vir... Vou contar e não me acanho

que um cheirinho de galinha a gente sente...

Ele falou: "O sr. está de parabéns,

porque essa ave é de uma espécie rara,

mas está choca e logo vai por ovos...

Dê muito alpiste, alface e azevéns..."

Guinchou a Kátia Rita, que até então calara:

"Ah, não, doutor! Quero só frutinhos novos!"

CUPINS DE VENTO VIII

O veterinário até arregalou os olhos,

engoliu em seco e disse, num gemido:

"Seu dono lhe dará o alimento preferido,

mas precisa comer cenoura aos molhos..."

A Kátia Rita soltou um áspero grasnido:

"O senhor pensa que sou uma ave à toa?

Saiba que venho de família muito boa!

Não tenho dono, este aqui é meu marido!..."

O veterinário fez depressa uma receita,

com o regime que devia ser seguido,

para os ovinhos não gorarem no meu teto

e ia me entregar, mas ela foi direita:

pegou com a boca o papel que tinha lido:

"Deixe comigo, que o João é analfabeto!..."

CUPINS DE VENTO IX

É verdade que eu comprei uns documento,

mas fiz o supletivo e não assino mais de cruz,

só que a minha letra, ai meu bom Jesus!

Só minha caturrita entende os meus intento.

Ela escreve tão bem com a ponta das patinha,

só tenho de ajudar para ficar de em pé...

Quando tira o sapato, sinto um cheirinho até,

mas põe desodorante embaixo das asinha...

Levei a Kátia Rita de volta para casa,

em vez de ir pra cama, se enfiou no armário:

a cada dois minuto, depressa ela se agacha

e põe mais um ovinho na prateleira rasa,

com muito mais carinho que pássaro ordinário:

fez ninho bem macio usando umas bombacha!

CUPINS DE VENTO X

O chato foi que se passou uma porção

de dias sem querer sair do ninho:

ficou chocando os ovos, com carinho;

levava alpiste pra me comer na mão...

Depois alface ou sanduíche, leite e pão...

Quando saía do armário, de mansinho,

fechava a porta, bem devagarinho,

para eu não ver como ia a incubação...

Quando quis tomar banho, me pediu

para ligar bem quente o secador

e ficar assoprando sobre o ninho...

Deixou os ovos tapados com um paninho...

Quando voltou, insistiu: "Mas tu não viu?

Eu te pedi para esperar, querido amor..."

CUPINS DE VENTO XI

Eu garanti que nem tinha espiado...

Ela sentou de novo, pra chocar;

daí a uns dias, ouvi alguém piar:

nosso primeiro ovo tinha chocado!...

Ela me deu pra segurar. Tive cuidado:

caturritinha branca de arrepiar!...

Mas depois, começaram a descascar

uns machinhos que puxaram do meu lado...

Tivemos seis. Os piás não tinham penas,

só no biquinho que eram iguais à mãe...

As prendinhas tinham penas bem branquinhas

e só o bico elas não tinham, apenas...

Eu dava leite e esmigalhava pães,

todo orgulhoso das criaturinhas...

CUPINS DE VENTO XII

Mas um dia eu cheguei e os três piás

tavam catando minhoca no jardim...

"E a mãe de vocês?" -- eu perguntei, assim

e eles disseram: "A mamãe voou...

A mãe e essas três gurias más

foram embora. Estão voando por aí..."

E eu fiquei desesperado aqui:

"Será que a Kátia Rita me deixou...?"

Mas umas horas depois, ela voltou,

mais as prendinhas, com cestas nos biquinhos:

tinham ido pescar peixes pelo ar!...

E mais cupins de vento me mostrou,

que ia fritar para nossos garotinhos,

sem nem sequer pensar em me deixar!...

William Lagos
Enviado por William Lagos em 25/05/2012
Reeditado em 26/05/2012
Código do texto: T3687857
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