Alma em tormentas

Noite alta, densa e lúgubre, madrugada tormentosa.

As árvores dormem sob um céu de chumbo.

Um triste vulto, insone, vaga embrulhado num capote,

indiferente ao frio e o uivo do vento que verga o bambuzal a sua frente.

Um zumbi, que tem por hábito caminhar desolado pelas ruas desertas.

Coisa de quem tem desgosto amoroso...

Um poeta a moda antiga a cavar melancolia e desilusões

para depois imprimi-las em seus versos?

Sua alma, mais negra que a noite...

E ao passar em frente a casa da amada ingrata

ergue os olhos e avista na janela uma luz amortecida.

Ela dorme. Indiferente, como quem ignora os segredos de alcova,

que inflamam de desejos o esqueleto indócil do pobre andarilho

apaixonado, com seus olhos langorosos...

Com que impaciência a desejava!

E o piar das corujas lhe parecia tão fúnebre!

Um tédio tão negro da vida, e assim segue choramingando.

Murmurando imprecações ao léu...

*Composto em 19 de março de 2000.

Edir Araujo, poeta e escritor independente, autor dos livros: A Passagem dos Cometas, A Boneca de Pano. Risos e Lágrimas e Fulana (inédito).

Edir Araujo
Enviado por Edir Araujo em 01/09/2013
Reeditado em 07/09/2020
Código do texto: T4461914
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