FETICHE II - O trôco
( Se quiser ler, FETICHE I - está no link abaixo ) 

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Semanas depois de nosso ardente embate
Ainda suspirava infinito cheio de tensão
Precisava dar-te o trôco do flagelo de ardor que me causastes
Fiquei imaginando o que faria para te surpreender
Pensei tantas coisas deliciosas, daquelas que fazem enrubescer
Resolvi pedir-te um favor, do tipo irrecusável
Disse
- Vá visitar minha mãe, ela anda com saudades tuas
Por certo iriais, pelo amor que nos cumpliceia e guia
Complementei
- Pode deixar que preparo um gostoso jantar, para quando tu chegares
Tu fostes, feliz e inocente, não sabias o que irias encontrar
Enchi nossa casa de velas miúdas, ladeando os cômodos como uma estrada iluminada
Na mesa pequena redonda do quarto, coloquei uma toalha de renda branca, tão linda
Sobre a pia da sala de banho, deixei, uma taça de Martini infinitamente seco, como tu aprecias  
No box do banheiro, deixei pregado um bilhete que dizia
- Podes demorar no banho amor meu, a noite de hoje não tem hora para acabar
Sobre a mesa do quarto, um balde de gelo e duas taças de cristalina aparência
Numa coqueteleira deixei prontos drinks de absinto e pimenta, já ansiando pelo teu retorno
Preparei uma bandeja, com canapés de queijo brie e damascos além de delicadas torradas e finas fatias de presunto de Parma, teu preferido
Junto a mesinha dentro do quarto um candelabro de prata com velas, que não eram só para iluminar, com esse pensamento até ri por dentro
Duvidei muito que lembrássemos disso na hora, mas, montei o cenário do abate
Espalhei pela casa pétalas brancas, como um tapete de adorno
Troquei as roupas de cama por um conjunto de branco cetim, bordado dos lados
No centro do quarto uma cadeira vermelha sem apoio de braços
Deixei teu robe branco no toillet junto com a tua calcinha de renda, a menor que encontrei
Tinha lacinhos dependurados dos lados, ao pegá-la, até confesso, arfei
Acendi incensos de rosa branca por todo o banheiro, sala e ninho
Deixei preso na porta do quarto um bilhete dizendo
- Entre abrupta e fogosa, vou te visitar tudo por dentro
Ao chegares tranquila e serena, te surpreendestes com o cenário instigante e com o bilhete na porta do quarto que dizia
- Banhe-se lentamente querida, muitas surpresas te aguardam
Ouvi do quarto teus passos, pelos sons dos saltos altos, tocando o assoalho brilhante
Conhecendo você bem demais, já devias estar pululando por dentro, afoita, mas, farias o correto traçado
Ao abrires a porta do quarto alguns minutos mais tarde, me encontraste em pelo, com duas taças nas mãos, ainda não estava de todo pronto meu truque rosado, embora já ameaçasse estremecer
Ao beijar-te e trocarmos as taças como num matrimônio recente, arfamos cheios de desejo
Você tão morena de calcinhas brancas de renda, era uma visão muito pouco celestial, já não conseguia amansar meu sereno infante
Sentei-me na cadeira vermelha, e declarei em rouco tormento
- Me abuses, me uses, me desassocia do tempo, farás apenas o que eu determinar, menina linda malvada, amada minha
Nem posso descrever com tantos detalhes, pois seriam proibidos fora das nossas quatro paredes
Na verdade, de feitor eu estava mais para um escravo, me derretendo em gotas e de(leite)
Sucumbimos numa senda de delírios prementes, como dois animais em fartos enlaces
As gotinhas de vela que pinguei em tuas mornas costas, te fizeram vibrar em acordes assaz dissonantes
As rendas arrancadas com os dentes, jaziam como meras testemunhas, silentes junto ao leito
Muitas e muitas vezes serenamos e recomeçamos, parecíamos estar nos descobrindo pelo avesso, de novo e de novo, incandescentes ardores
Gritando e gemendo no ninho, rompemos a madrugada, transpirando amores
Relembrar, até hoje, ainda a pele nos arde. Ah! Infinito delírio chamado, desejo.
 
 
Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 03 de dezembro de 2015.
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Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 03/12/2015
Código do texto: T5469244
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