Quem pode censurar dois corpos em uma cama,
Entregues á sensualidade de um ritual de amor?
Quem ama deseja, mas se deseja é porque ama, 
E se entrega ao desejo sem reservas nem pudor.
 
Ide com quem amas e não cuideis do invejoso:
Quem renega o seu desejo não vive de verdade, 
Não foi Ele mesmo, um Deus austero e judicioso,
Que pôs no teu corpo uma ardente sensualidade?
 
Que será mais belo que um exercício de paixão,
Feito por dois amantes, do mundo esquecidos;
Deus, que é puro Amor, neles verte sua benção,
E a vida, que é unção, deles faz os seus ungidos.

 
Das bocas dos amantes, abandonados á emoção,
Flui um mel da volúpia, que elimina a gravidade.
O leito flutuando, e os corpos em plena levitação,
São como espíritos libertos da sua materialidade. 
 
Se um dia a vossa sorte os fizer desejar alguém,
Nunca o deixe ir embora, esteja ele onde estiver;
Pois se dele, ou dela, fizerdes o verdadeiro bem, 
Só precisareis ser o que sois: - homem e mulher.
 
De nada mais necessitamos além desta verdade;
O resto é descartável, pois são apenas lenitivos,

Coisas que fazemos só para nutrir nossa vaidade,
Ou então para lembrar que ainda estamos vivos.
 
Pois o desejo de amar sustenta uma existência;
Se o fogo está aceso há vida em nossos corpos;

Mas se um dia deixarmos de sentir tal ardência,
Só existe uma razão: - é porque estamos mortos!