Profundeza da Saudade

Um dia julguei que podia entender a profundeza da saudade,

desnudei a mente, castiguei o corpo e gritei no interior dos ecos…

Edifiquei prisões de portas inquebráveis e seduzi doces virgens,

como se razoavelmente soubesse morrer na ausência do amor.

Seria morrer cercado apenas pelo meu nada no reboliço de carnes

absurdamente castas de tabus em troco de uma nota enxovalhada!

O veneno absorvido pelo amor, o mesmo que aniquilou sonhos,

trouxe a solidão como carrasca e mensageira má e ensanguentada,

que insiste em partilhar a ideia da morte como a melhor solução.

Não posso entregar a um coração vazio a intensidade da mente,

apagar tudo que a memória escreveu nos vidros embaciados de fulgor,

o sabor dos beijos, o aroma da vulva, a delicadeza do olhar insinuante…

O gelo petrificado nas mãos firmes que conhecem os recantos do teu corpo

apenas permanecerá neste inverno maquiavelicamente imposto

pela solidão que se anula ao permitir que reviva todos os gemidos de prazer,

o fogo que viveste, as sombras iluminadas nas paredes do quarto,

o cheiro a terra molhada, a loucura do ópio que chamamos de tesão!

A carne dedilhada com a volúpia dos pioneiros da descoberta do prazer.

A solidão será vencida quando entender a profundeza da saudade!

A mente guia-me na terra em que o espaço e tempo pararam,

nos mesmos caminhos que percorro incessantemente te buscando.

O amor tinha um corpo que transbordava de sonhos e à noite

prometia-nos a invencibilidade com olhares brilhantes e confiantes…

Os raios de sol encobertos pelo nevoeiro fantasiado por que desconhece

o que a tua boca húmida deslumbrava e intimidava os pudicos…

…são amor e desejo, amor e loucura, amor e tesão, amor e saudade…

Os campos férteis das carnes estão lavrados e as vontades irradiam

onde nada é simples nem singular.

O mar descreve detalhadamente a profundeza da saudade aos olhos do céu,

os campos dourados e as árvores da floresta testemunham a inocência desta loucura

e as paredes dos quartos e os lençóis enrolados têm peles em comum.

As poesias nasceram para que a solidão, saudade e amor se compreendam,

numa loucura onde havemos de reinventar o fogo e a nossa própria pátria.

Sei que nada que escrevi tem nexo, se o tivesse…Já tinha entendido a saudade!

Sessenta e Nove Sugestões Poeticas
Enviado por Sessenta e Nove Sugestões Poeticas em 22/11/2023
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